quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


O FATO DE O PORTUGUÊS SER ASSIM
--- Outra dúvida e que está caindo direto em concursos é quanto à contração da preposição com o artigo antes de um substantivo: Corrente de peso tem defendido a possibilidade de a União conceder isenções de quaisquer tributos no âmbito do Direito Internacional.  E. J. S., Cascavel/PR
--- Há um erro que volta e meia encontro em jornais e revistas: Apesar dos políticos serem corruptos, o Brasil progride. Como “os políticos” é o sujeito do verbo ser, não pode contrair-se com a preposição “de”. E a frase correta é: Apesar de os políticos serem corruptos... Francisco Leoncio Cerqueira, São Paulo/SP
Devemos começar observando a presença imprescindível do verbo no infinitivo [conceder, ser] nesse tipo de estrutura frasal. A contração pode ocorrer na seguinte sequência: preposição DE + artigo o, a + substantivo + INFINITIVO. Ou então DE + ele/ela + INFINITIVO.  Isso porque na fala há uma natural fusão do DE com a vogal seguinte, ficando DA, DO, DELE, DELA. Entretanto, pela gramática normativa, não se deve fazer isso na escrita porquanto “não existe sujeito preposicionado”. 
Assim, quando se diz, por exemplo, Está na hora da onça beber água, a onça, sujeito do infinitivo beber, fica precedida por uma preposição em desacordo com as normas gramaticais. Só que em alguns casos realmente não soa bem a separação da preposição, especialmente quando se tem uma frase feita. Dizer “Está na hora de a onça beber água” descaracterizaria a expressão. Por isso mantém-se a fusão [da]. Mas num texto formal (e nos concursos!) se trocaria a construção “Está na hora do governo intervir no câmbio” por “Está na hora de o governo intervir no câmbio”.
O Acordo Ortográfico que entrou em vigor no mês de janeiro/2009 reforça o uso gramatical: “Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou pronominais o, a, os, as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas em construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se funde a preposição com a forma imediata, escrevendo-se estas duas separadamente: a fim de ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude de os nossos pais serem bondosos; o facto de o conhecer; por causa de aqui estares (Base XVIII, 2º, b, Obs.)”.
O bom redator deve conhecer a matéria e ter critério no seu uso. Convém perceber que a maior parte dessas construções acontece com as expressões o/pelo fato de, apesar de, antes ou depois de, a possibilidade ou o direito de. A confirmar:
  • A participação dos alunos é obrigatória, apesar de eles poderem escolher a atividade.
  • Apesar de a Sars se mostrar altamente contagiosa, não se sabe ainda a velocidade de expansão da epidemia.
  • Outro ponto delicado é o fato de a droga ser injetável, gerando discussão sobre o manuseio e descarte das seringas infectadas.
  • Há rumores sobre a possibilidade de o grupo negociar sua rendição.
  • Mágoas, ele tem algumas, especialmente depois de a Justiça não ter levado em conta sua vida antes do crime.
  • Essa ação não elide o direito de o credor ver cumprida a liminar.
Nas frases em que está presente um substantivo tal como possibilidade ou direito é possível deixar a contração, porém repetindo a preposição: Essa ação não elide o direito do credor de ver cumprida a liminar
Embora malvista em situação formal, devo dizer que essa fusão se encontra até em bons textos, e no correr da leitura poucos reparam na sua “impropriedade”:  
  • Apesar do artigo 10 vedar...
  • Apesar da ação ter transcorrido há muitos anos...
  • Pelo fato do filho do autor ser menor de idade...
  • Antes da chuva cair, saímos.
Também se pode evitar essa situação trazendo o infinitivo para a frente do substantivo: o fato de ser a droga injetável; apesar de ter a ação transcorrido; antes de cair a chuva... 
Fonte: www.linguabrasil.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário