A viajante sem noção
Nosso viajante britânico informa,
emocionado, que participou da festa em homenagem à sua amiga e soberana,
Elisabeth II. Como de hábito, Mr. Miles mandou que rosas colombianas fossem
enviadas para a rainha e exaltou sua juventude. "Nove décadas já
representam alguma coisa, dear Majesty. Mas faço votos que a senhor chegue à
minha idade com a mesma disposição e saúde!"
A seguir, a pergunta da semana:
Querido Mr. Miles: o que o senhor
acha de viajantes sem noção?
Patricia Fortelli, por email
Well, my dear, não sei bem ao que
você está se referindo, mas, de alguma maneira, sua pergunta me remeteu a uma
espantosa viajante que conheci anos atrás. A moça, chamada Susan, e proveniente
de Idaho, em nossa antiga colônia, flanava pela Piazza San Marco, em Veneza
quando disse, com o olhar inteligente de um ruminante mascando capim:
"Adoro viajar! Estou tão feliz de voltar à Veneza, depois de quinze anos.
Mundou tanto!".
Oh, my God!
Veneza mudou? Todos sabem que a
cidade permance a mesma desde os tempos de Marco Polo. É, of course, um exemplo
de preservação — que não seria nada se tivesse uma cara nova para cada longo
século de sua existência.
Como cavalheiro que sou, however,
decidi não admoestá-la, mas achei interessante me apresentar para conhecer melhor
aquela alma pura e desinformada. Susan era um fenômeno digno de estudo
científico. Em poucos minutos, ela me informou, sorridente, que estava achando
a França o máximo.
França? — perguntei.
"É, Mr. Miles, a comida é
tão boa. Adoro pizza. Foi inventada aqui na França, não foi?
Estupefato, decidi convidá-la
para almoçar. Em segundos, ela me pediu que traduzisse o cardápio.
"Well,
Susan, há um texto em inglês embaixo do nome dos pratos. Can you see?".
Pois ela me pediu que traduzisse
mesmo assim, porque, a seu ver, um mushroom em inglês era diferente de um
funghi em francês (que era italiano, of course).
Durante o almoço, pude me
divertir com suas histórias. Herdeira de um rico vendedor de pneus em Boise,
ela já havia estado em diversos lugares. Não soube me dizer quais eram eles.
Mas falou em elefantes, torres, muralhas e pontes.
Questionei Susan se não era
interessante lembrar-se dos lugares que conheceu, mesmo que fosse para não
voltar, casualmente, aos mesmos. Foi então que ela me ensinou:
"Ora, Mr. Miles: todos os
lugares mudam como Veneza. Então tanto faz. Cada viagem é diferente!".
Fui obrigado a concordar —
sobretudo porque creio mesmo que os lugares mudam permanentemente, exceto
Veneza.
Perguntei a ela se, dado o seu
desconhecimento sobre os idiomas e os lugares, preferia viajar em excursões
organizadas.
"De jeito nenhum. —
respondeu-me — Uma vez viajei com um guia e, Deus me livre: ele falava sem
parar!".
Susan era mesmo uma pessoa sem
noção. Digo mais, my friends, abusando da redundância: ele não tinha nem mesmo
senso de noção. Do you what I mean?
Disse-lhe que era inglês e
brinquei com o fato de que nós, britânicos, haviamos colonizado os Estados
Unidos.
"O quê? Eu não tinha menor
ideia de que os ingleses tinham alguma relação com a gente. Pensei que tínhamos
sido descobertos pelos nativos!".
Diante de mais essa demonstração
de leviandade, perguntei-lhe, enfim, porque motivo viajava?
"Adoro fazer compras e adoro
contar tudo quando volto. Minhas amigas vão amar quando eu disser que estive
aqui na França."
Can you believe me?
Fonte: Facebook
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