terça-feira, 12 de setembro de 2023

ROMANCE FORENSE

Os atrasos do juiz plantonista

O plantão no Foro Central da grande capital era, sete vezes por semana, das 6 da tarde às 9 horas da manhã seguinte. Havia uma escala de cinco juízes que se revezavam, na carga de 15 horas, com direito a merecida soneca nos eventuais períodos, na madrugada, de calmaria. Quatro magistrados eram pontuais.

Os dias de plantão do Dr. Auro – o quinto da escala - eram um sufoco. Ele jamais chegava antes das 23h., afinal dava aulas noturnas no campus avançado de uma universidade, à beira-mar, a mais de 100 km da capital.

Nessas cinco horas que mediavam entre o horário marcado para o efetivo início das atividades plantonistas e a chegada do Dr. Auro, se formava uma extensa fila de advogados e partes, que se enfureciam com o atraso. Uma oficial de justiça gentil era escalada para dar esfarrapadas explicações sobre os atrasos do Dr. Auro. Algumas pessoas aceitavam, outras reclamavam, umas poucas tentavam – e não conseguiam – falar com o corregedor-geral.

O Dr. Bento Ozório, advogado astuto, uma noite, com petição e fotos à mão, foi ao Plantão do TJ em busca de uma produção judicial antecipada de provas para comprovar a ausência do juiz no plantão do fórum. Requereu até que o desembargador plantonista do tribunal fizesse uma inspeção judicial.

A petição inicial foi indeferida, mas o desembargador levou o caso à Corregedoria. Ali calculou-se que, pelos atrasos sistemáticos nos seus seis ou sete plantões mensais, o Dr. Auro sonegava pelo menos 30 horas mensais de trabalho. Sem ser punido, ele foi remanejado para um JEC e também segue fazendo substituições alhures.

O Dr. Auro continua dando aulas noturnas na faculdade à beira-mar. E não se tem notícias do “banco de horas” dele na jurisdição cível. 

Fonte: www.espacovital.com.br

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