Fabrício Carpinejar
Homem ou a mulher, quando trai,
quando sustenta um caso por meses ou anos, quando alimenta vida dupla, quando
falseia descaradamente onde estava e o que fazia, perde moralmente qualquer
posição para exigir meio a meio na separação.
É um sentimento, não o que está
na lei.
Deveria sair de casa com a roupa
do corpo e não levantar o queixo para resmungar ou ensaiar qualquer apelo.
É baixar a cabeça e sair de
fininho, como numa canção sertaneja.
Perderá a sua metade da louça, a
sua metade dos móveis, a sua metade da casa. Aquela metade que tinha direito
não tem mais - a indecência mandou embora.
O que vier de volta será lucro.
Mas não deve pedir nada, depende da generosidade de quem ficou. Na maior parte
das vezes, aquele que é traído cria nojo e despacha um frete do que restou, já
que não quer guardar nada que lembre o ex ou a ex.
Mas aquele que trai deve deixar
tudo para trás. Não é por compensação ou para amenizar o prejuízo amoroso, mas
por vergonha mesmo. Precisa ter vergonha na cara para não exigir mais nada e
apenas pedir perdão.
Profanar o santuário a dois
impactará no uso da verdade dali por diante. Uma mentira não mata somente uma
verdade circunstancial, mata a retrospectiva das verdades de uma vida. Porque
envolve amantes, porque estabelece a paranoia de uma disputa. O que foi
enganado não tem noção daquilo falado fora da residência.
Quando errei, deixei apartamento,
deixei biblioteca, deixei coleção de décadas de vinil, deixei gavetas de
sapatos, deixei dezenas de ternos, deixei objetos de infância, deixei álbuns de
fotos, deixei o que comprei com o meu dinheiro. E aprendi o quanto custa uma
traição. É matar a esperança do amor mais do que o amor, é perder tudo o que
fez de valioso dentro da fidelidade, é trocar os dias sem segredos pelas noites
de mistério.
Fonte: Facebook
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