quinta-feira, 20 de outubro de 2022

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


INFINITIVO FLEXIONADO – VOZ PASSIVA (1)
--- Professora, qual é o certo: medidas a serem/ser tomadas? S. B., Porto Alegre/RS
 --- Qual o correto, já que a flexão do infinitivo tem uma regência especial: para ser contadas ou serem contadas. E os outros casos que envolvem preposição e infinitivo. Adriana Mellos, Santa Cruz do Sul /RS
 --- Quero saber por que o verbo ser não acompanha o plural do restante da frase: ...casos desse tipo levam até vinte anos para ser decididos. Leonardo Santos Moreira, Rio de Janeiro/RJ
 --- O uso do verbo ser como auxiliar. Exemplo: Eles estão para ser/serem exilados. Douglas N. Rothen, Curitiba/PR
O uso do infinitivo flexionado é chamado de “idiotismo” por ser, entre as línguas neolatinas, peculiar e exclusivo do português. Se, por um lado, a flexão [-es, -mos, -em] serve para esclarecer a pessoa do sujeito sem ser necessário mencionar explicitamente os pronomes tu, nós, eles (por exemplo, pode-se dizer “convém irmos juntos” em vez de “convém nós irmos juntos”), tornando a redação mais bonita e interessante, por outro lado deixa os falantes em dúvida sobre o que é melhor ou correto.
Selecionei então algumas das muitas cartas em que leitores do Língua Brasil manifestam suas incertezas sobre o emprego da flexão do infinitivo na voz passiva. A flexão simples foi tratada na coluna Não Tropece na Língua 49, ocasião em que mostrei as duas possibilidades de uso, concluindo que só existe uma obrigatoriedade de flexão: quando o sujeito [substantivo ou pronome] do infinitivo se encontra claramente ao lado do verbo, depois da preposição, isto é, na seguinte ordem: PREPOSIÇÃO - SUJEITO - INFINITIVO. Relembrando: 
  • Falou para as crianças saírem da sala.
  • Discutiram uma forma de todos se protegerem.
  • Para os problemas serem resolvidos, precisamos de mais ação.
  • Dê um jeito de seus filhos estudarem juntos, falou.
  • Ser autônomo é mais incômodo, a ponto de muitos de nós termos medo de ser livres.
A dúvida da maioria dos consulentes ocorre quando a frase apresenta uma ordem diferente: SUJEITO - PREPOSIÇÃO - INFINITIVO. Já neste caso é facultativa a flexão, embora haja algumas recomendações e preferências, sobretudo em razão da eufonia, do que soa ou fica melhor no contexto. Mas quero reiterar que existem alternativas: não se discute se é certo ou errado. Por exemplo, não se pode afirmar que há erro em “É preciso pensarmos no que fizemos ou deixamos de fazer para melhorarmos a vida do nosso irmão” [frase de um senador em 1999]. Todavia, o enunciado fica muito melhor assim: É preciso pensar ou Precisamos pensar no que fizemos ou deixamos de fazer para melhorar a vida do nosso irmão
Bem, a novidade de hoje e da próxima semana em relação à coluna NTL 49 é que vamos falar da flexão do infinitivo na voz passiva, o que implica a presença do verbo ser no infinitivo + um particípio. O esquema é este: SUJEITO - PREPOSIÇÃO - SER - PARTICÍPIO.
Primeiro caso
A flexão do infinitivo passivo é preferível e preferida quando o substantivo ou o pronome que é sujeito do infinitivo vier logo na frente da preposição:
  • Relacione as medidas a serem tomadas, por favor.
  • O editor guardou mil histórias para serem contadas
  • As casas a serem visitadas foram apontadas pelo delegado.
  • Condenamos os escritores a não serem lidos.
  • É importante zelar pela qualidade das obras a serem publicadas.
  • Definidas as propostas e a metodologia a serem utilizadas, a equipe de Paulo Freire iniciou o trabalho.
  • Encaminho-lhe os seguintes documentos para serem analisados.
  • Levar o cão ao veterinário e cuidar da sua alimentação são apenas alguns dos itens a serem observados.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

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