Com tutela ou com liberdade?
A primavera garante os primeiros
brotos das begônias que nosso correspondente tem em sua residência no Condado
de Essex. Mr. Miles, no entanto, prepara suas malas para viajar rumo a
Budapeste, onde vai visitar o sábio Andor Stern, que mora, aliás, em terras
brasileiras. Miles adora ouvir as histórias de Andor, autor de uma frase que
nosso viajante adotou. "Quando estreitamos os limites, Miles, a vida fica
mais difícil. Quanto mais aberto formos a tudo, inclusive ao que, inicialmente,
não nos pareceu certo, mais viveremos em harmonia."
É a esse universo sem limites e
"unfortunately, com fronteiras demais", que o peregrino britânico tem
dedicado sua existência.
A seguir, a pergunta da semana:
Querido Mr. Miles: já tenho
netos, creio que sou culta, mas meu inglês não é bom. Por isso, prefiro sempre
viajar com excursões do que sozinha. O senhor pode compreender essa opção?
Rosangela Assis Boni, por email
Indeed, dear Rosangela! O
importante é que você viaje. E como se diz culta, which I believe, não vejo
qualquer inconveniente na maneira como você o faz. Há inúmeras maneiras de
conhecer o mundo e todas elas, exceto as mesquinhas — as que visam impingir
ideias, ideais e credos — são, usually, muito valiosas.
Veja bem, darling: quando se
viaja com uma excursão ou qualquer outro tipo de pacote fechado, você está
exercendo a escolha pelo destino. Mas nunca pelos detalhes. Se o passeio
incluir programas limitados, você será refém de cada um deles. Mas, com cultura
e informação, terá a oportunidade de aproveitar os momentos livres para suas
próprias investidas. Digamos que você seja uma apreciadora de vinhos. Nos
restaurantes incluídos em excursões, raramente a carta vai lhe oferecer a
variedade ambicionada. E quando houver algum vinho destacado, ele terá o
chamado tourist price — uma pequena metáfora para roubo-a-mão-desarmada.
Nesse caso, será melhor você
fugir um pouco do roteiro e buscar seus próprios experimentos, aqueles que
garantem a química de uma viagem especial.
Quando se viaja sob tutela (e
esse é o caso) só a informação qualificada pode salvar o passageiro de alguns
problemas recorrentes. Já contei, certa vez, nesse espaço, de questões
divertidas (mas não corretas) relacionadas à guias de viagem, desses que usam
microfones na primeira fila dos ônibus. A maior parte deles, I must say, é
formada por gente correta, informada e muito bem graduada. Mas existem alguns
personagens que nos enganam direitinho. Certa feita, em viagem pelo interior da
República Tcheca, comecei a estranhar os dados fornecidos pela simpática Slata.
Comparando suas observações com os dados de um livro confiável, descobri que
Slata ampliava tudo em cerca de 30%, no nobre intuito de valorizar seu país.
Assim, a ponte de 300 metros chegava a quase 400. A montanha de 1200 metros
subia para perto da 1500. And so on...
Quando viajamos por nossa própria
conta, temos maior arbítrio. Podemos decidir, of course, todos os passos de
nossa viagem e só o acaso pode mudar nossos planos — situação, by the way,
muito bem-vinda. Que tal uma parada inesperada para ver um artesão de rua
concebendo um trabalho incomum? Ou uma não-planejada visita a uma livraria que,
pela vitrine, pareceu-lhe interessante?
A liberdade, darling, faz parte
do viajar. Mas a tutela também pode fazer, se assim você se sente melhor.
Qual é o sentido de viajar sem
alguém que a conduza pela mão, se você correr o risco de sentir-se perdida ou
assustada? Keep going, dear Rosangela. O mundo fica mais amplo quando cada
pessoa decide visitá-lo.
Fonte: Facebook
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