Uma esmola de 300 reais
Na cidade de forte colonização
por alemães, é apregoada audiência na Justiça do Trabalho. O reclamante é um
jovem franzino e tímido, pedindo reconhecimento de vínculo empregatício, por
ter sido caseiro no sítio do reclamado.
Este é um senhor de gestuais
grosseiros e impacientes.
O juiz dá bom dia às partes e
seus advogados, questionando-os sobre possibilidade de acordo. O reclamado,
então, afirma cheio de mágoas, dedo apontado para o reclamante.
- Acordo? Dei casa, água, luz,
comida, um salário mensal pontual e ele agora me apronta essa!
O magistrado contrai a expressão
facial, mas tenta suavizar:
- Sei que o senhor pode estar
chateado, mas o reclamante trabalhou no seu sítio e diz que foi mandado embora
sem receber nenhuma parcela rescisória. Sugiro que proponha um valor,
encerrando a discussão hoje mesmo.
O reclamado puxa três cédulas de
R$ 100 do bolso e as coloca sobre a mesa, afrontando o caráter formal da
solenidade e atropelando:
- Não seja por isso. Dou esta
esmola, que deve bastar a esse morto de fome!
Perplexo, o juiz dirige-se ao
reclamante:
- O senhor, por gentileza, apanhe
o dinheiro e guarde-o no bolso. É seu!
Sem nada entender, mas confiando
na determinação – e após ter a aquiescência de seu advogado - o reclamante
recolhe e guarda as três cédulas.
E antes que o reclamado siga com
impropérios, o magistrado continua mantendo o comando:
- A esmola já foi aceita. Agora,
o senhor trate de pensar numa proposta de acordo. Medite ou oriente-se com seu
advogado antes de abrir novamente a boca. O lugar onde o senhor está se chama
Justiça, e não feudo! E o juiz sou eu.
Veementemente alertado por seu
advogado, o alemão duro concorda em pagar mais R$ 2.500 e, assim, acabar com a
demanda. Acordo fechado, cheque assinado, formalidades preenchidas, processo
encerrado, clima ainda hostil na sala de audiências, o empregador levanta-se e
parte sem se despedir de ninguém.
Deixa o foro trabalhista
visivelmente contrariado – talvez pensando nos R$ 2.800 despendidos, mais os
honorários de seu advogado e as custas - e embarca em sua possante camioneta,
partindo com o canto dos pneus etc.
Aconteceu numa cidade da Grande
Porto Alegre.
Fonte: www.espacovital.com.br
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