Charge de Gerson Kauer |
O inimigo secreto
Por Mauricio Antonacci Krieger,
advogado, OAB-RS nº 73.357 (*)
Final do ano passado, jovens
advogados (as) e estagiários (as) de uma grande banca advocatícia gaúcha fazem
uma festa particular com direito à entrega de presentes. É o que chamam de
“amigo secreto”.
São cerca de 20 pessoas reunidas
na bela casa de um deles e, depois de bastante cerveja e churrasco, todos os
convidados já ´animados´ começam a troca de presentes.
Após várias adivinhações, chega a
vez de o advogado Charles dar as características do seu amigo (a) para que os
demais possam tentar adivinhar a quem o presente será entregue.
Charles depois de mais um gole de
cerveja inicia seu discurso:
- Diz a lenda que a mulher ou é
bonita ou é inteligente! Pois a minha amiga secreta não é nem uma coisa, nem
outra. Ela é de meia idade, tratando-se de uma anta feia como o diabo! E
etcetera...
Todos caem na risada e apontam
para uma estagiária, gritando:
- Só pode ser a Carla,
hahahaha!...
Depois de muitas gargalhadas,
Charles tenta entregar o presente, que é recusado na hora, o que dá início a
uma discussão.
Carla vai embora chorando,
desiste de trabalhar no escritório advocatício e um mês após entra com uma
ação, pedindo reparação financeira por danos morais “por ter tido sua imagem
ferida diante de seus colegas de trabalho e alguns amigos” (...) além do que,
qualquer pessoa não deve ser analisada pela eventual falta de leveza nos seus traços
faciais, mas sim pelo caráter, pela cultura, pela beleza da alma e outros
atributos”.
O juiz designa audiência. Nela,
Charles admite os fatos, pede desculpas. E diz que se tratara de uma
brincadeira sob o ´efeito orloff´.
Carla não aceita as escusas e o
magistrado – dispensando a prova oral, porque os fatos são incontroversos –
logo sentencia e condena o jovem advogado a pagar uma reparação moral de R$ 2
mil. Ainda cabe recurso.
No fórum o processo é conhecido
como ´o caso do inimigo secreto´.
Segundo o escrivão, “a
sinceridade, em alguns casos, pode custar caro”...
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(*) Os nomes usados são
fictícios.
Fonte: www.espacovital.com.br
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