Fabrício Carpinejar
O fim moral de um time não é quando o torcedor abandona a
bandeira, é quando o torcedor cansa de secar. O secador é a última esperança de
vitória do torcedor.
Quando a situação está tão ruim que nem torcer contra o
rival funciona. Você não tem como debochar e somente se cala. Você não tem como
zoar e passa a ser repentinamente educado e ainda diz para o inimigo que ele
mereceu ganhar. Não encontra mais nenhum motivo para galhofa. A CBF vira STJD e
fica refém mais da atuação dos advogados e do tapetão do que aquilo que
acontece no tapete verde do campo.
Ausenta-se do debate, pois a distância entre o triunfo e o
abismo se mostra inalcançável. As piadas de secação tornam-se velhas e não
existe uma argumentação razoável para fazer gozação.
O fim do secador dentro do torcedor é o desinteresse
completo pelo futebol. Você perde com o próprio time e também perde com
qualquer time que enfrente o adversário direto de sua cidade. Está órfão da
sorte e descrente dos deuses da bola.
Como colorado, a depressão me espera. Já cansei de torcer
para o meu time e também para o Atlético, o Coritiba, o Figueirense, o
América... Só acumulo derrotas. Dependo mais de resultados paralelos do que do
próprio desempenho do meu clube. Eu sou obrigado a assistir três partidas ao mesmo
tempo para rezar contra o descenso. Não há superstição que vingue. Não há
concentração que se mantenha firme diante de tantos focos. É necessário acertar
a loteria esportiva todo o final de semana.
E ainda sofro o extremo da aflição de testemunhar o Grêmio
campeão da Copa do Brasil enquanto corro
o sério risco de jogar a Série B pela primeira vez. É o ano de pesadelo dos
colorados. O Apocalipse do manto vermelho. O Juízo Final dos sacis. Já estou
deixando de beber porque não vejo pretexto para comemorar, já estou me
enfurnando nos assuntos familiares e domésticos
porque não tenho com o que vibrar no estádio, a minha mulher e os meus
filhos já me perguntam se não vou dar uma volta e sair um pouco de casa, não me
aguentam colado 24h.
Saudade da flauta gremista. O silêncio dos outros é puro
escárnio. Não encontram sequer motivo para brincar com o meu coração morto. O
respeito é apenas pena.
Fonte: Facebook
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