Sobre banhos termais
Continua repercutindo o artigo
"Parece, mas não é", que nosso viajante britânico publicou nesse
espaço há duas semanas, mencionando coisas que existem na língua, mas não
existem nos fatos, como, por exemplo, o filé à cubana ou o macarrão à
parisiense. Muitos leitores têm enviado novas sugestões à lista, da qual a mais
recorrente é o pão francês, que não corresponde aos pãos feitos na França. Mr.
Miles promete voltar ao assunto e pediu para que mencionássemos a ótima
participação do leitor Dyrson Inohira: "quando você for aos EUA tome
cuidado se quiser comer um autêntico americano; o canibalismo foi abolido da nossa
sociedade há muito tempo e só expressar o desejo já dá cadeia. O americano é o
nosso delicioso pão recheado com presunto cozido, queijo, ovo e alface".
A seguir, a pergunta da semana:
Querido mr. Miles: sou uma fã de
banhos termais e já estive em diversas estações hidrominerais ao redor do
mundo. Será que um dia eu terei o prazer de encontrá-lo em uma dessas piscinas
quentes?
Sarita Gonçalves, por email
Well, my dear: sinto
terrivelmente desapontá-la mas, de minha parte, não aprecio nem um pouco esses
sempre muito concorridos banhos públicos.
Para que fique claro desde já,
minhas razões não têm nada em comum com as dos franceses, que, for sure, a
prezada leitora jamais encontrou em alguma terma. Como é sobejamente conhecido,
os habitantes da Gália não gostam de qualquer tipo de banho por motivos, I
presume, ideológicos. De minha parte, prefiro a solidão de minha própria
banheira ou das que me são oferecidas pelos quartos de hotel. Elas não têm
enxofre nem outras propriedades balsâmicas, mas, como dizia minha querida
tia-avó Antonine: “quem precisa disso?”
I’m sorry, dear Sarita, mas
tenho, as you know, uma saúde de ferro, exceto pelas recidivas daquela antiga
malária que contraí no Congo muitas décadas atrás. E minhas raras experiências
em estações hidrominerais foram inegavelmente desagradáveis.
Vou relatá-las para ver se você
concorda: muitos anos atrás, ainda durante a vigência do regime comunista, meu
amigo Férenc Puskás (N.da R.: célebre futebolista hungaro) convidou-me para um
banho nas termas do renomado Hotel Géllert, em Budapeste. Fazia um frio de
congelar torneiras e decidi acompanhá-lo. O recinto era — e ainda é —, muito
bonito. Mas confesso que senti um certo desconforto ao compartilhar as tépidas
águas desse balneário com cerca de 5000 camaradas magiares em nítido estado de
petição de miséria. Para piorar, oh my God, no imundo vestiário coletivo (hoje,
by the way, já reformado) adquiri uma persistente coceira nos dedos, da qual
levei meses para me livrar. Isn’t it awful?
Em outra ocasião, uma mulher muito
bonita (ah, o poder das mulheres) convenceu-me a provar as águas quentes de um
enorme balneário que fica justamente no Brasil. Prefiro omitir o nome, porque
não sei se ele aprimorou suas condições desde então. Eis que, ao lado da
piscina, havia uma grande placa com um desenho esquemático sugerindo um homem
em vias de urinar. Havia um X sobre a placa, advertindo, probably, de que era
proibido urinar no local. A sutileza da indicação, of course, fez com que eu me
sentisse imediatamente mergulhado em uma privada. Tentei, therefore,
concentrar-me na beleza de minha acompanhante, mas logo notei uma estranha
massa esfarelada flutuando sobre as águas quentes. Guess what? No meio da
piscina havia um bar vendendo cerveja e guloseimas aos banhistas. Os tais farelos,
como compreendi a seguir, eram apenas pequenos pedaços das empadinhas que se
desprendiam das mãos dos meus gulosos pares.
Será que agora, darling, você
ainda guarda alguma esperança de encontrar-me em um lugar desses?
Fonte: Facebook
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