Charge de Gerson Kauer |
O abaixo assinado
Por Leo Iolovitch, advogado (OAB-RS nº 6.667)
O doutor Apolônio era o típico advogado de bairro, também
chamado “porta de cadeia”, com clientela humilde e tratando os dramas humanos
com sua experiência de vida e a malandragem que acumulou ao longo dela.
Numa tarde, ele irrompeu indignado na delegacia, acompanhado
de um cliente, para protestar que a boate dele havia sido fechada. Perorava
dizendo que fora uma injustiça.
O delegado, que conhecia bastante o advogado e também a tal
espelunca, mostrou um abaixo assinado dos vizinhos, que pedia que fechassem o
local diante do barulho e perturbação da ordem.
O doutor Apolônio olhou o papel, mostrou ao cliente e
teatralizando atirou na mesa do policial, dizendo que não poderia ser verdade,
reiterando o pedido de reabertura do inferninho.
O delegado assumindo uma postura de neutralidade disse a
eles:
- Aqui há 25 assinaturas pedindo para fechar o local; se for
verdade o que o senhor diz, então me tragam uma lista com o dobro de
assinaturas, que eu libero e mando abrir.
Para surpresa da autoridade, o advogado respondeu:
- Pode deixar, vou trazer.
No outro dia chegou à delegacia uma lista com 51
assinaturas, dizendo que nada tinham em desabono em relação a tal espelunca,
que não os perturbava.
O delegado mandou o comissário conferir se as assinaturas
eram verdadeiras e de vizinhos. O agente voltou e, para surpresa geral,
confirmou que tudo era verídico.
Então o doutor Apolônio foi chamado. O delegado disse a ele:
- Eu prometi reabrir com um abaixo assinado maior, recebi
esse aí que achei que era frio, mandei ver e é quente, mas só vou liberar o
local se tu me explicares o que está acontecendo...
O velho advogado, sorrindo, disse à autoridade policial:
- Vou contar para o senhor que é meu amigo. O dono da boate
é um antigo cliente, que vive me devendo e eu estava precisando de dinheiro...
Então eu fiz a primeira lista... aquela era a fria”.
Fonte: www.espacovital.com.br
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