Era uma tarde quente, numa segunda-feira, na cidade de Luz
(MG). No fórum local transcorria, de forma solene, uma audiência regular,
presidida por juiz recém chegado à comarca. Como o ar condicionado da sala
estivesse pifado, as janelas estavam abertas.
Ao fundo, escutava-se distante - aproximando-se - o som de
um piston, alguns tambores e gritos de “não tem conversa não; o juiz é um
ladrão”.
A audiência seguia, escutava-se a frase repetitiva e o som
se fazia cada vez mais próximo, a ponto de criar constrangimentos.
O magistrado, a despeito de pensar que as ofensas não
poderiam, naturalmente, se referir à sua pessoa, foi-se tomando pelo vexame
momentâneo.
Tentando quebrar aquele clima, desceu da sua solene cadeira
e seguiu alguns passos até a janela para ver o que se passava. Provavelmente
pensava em tomar alguma providência, ainda que fosse apenas para manter a
ordem. Mas as vozes se faziam mais fortes e a expressão se repetia: “O juiz é
um ladrão”.
Quando espiou para fora da janela, o juiz escutou outra
expressão: “Roubou, roubou sim, roubou do Cruzeiro”.
Foi então que vislumbrou - um bumbo, dois pequenos tambores,
um piston etc. e a claque – formada por torcedores envergando camisetas do
Cruzeiro.
Todos estavam a reclamar contra o arbitro ´fulano de tal´,
morador da própria cidade de Luz e que, na véspera, tinha ´roubado´ do time
cruzeirense, numa partida contra o América Mineiro. Os manifestantes passaram à
frente do fórum, seguiram pela mesma rua mais duas quadras, até a frente da moradia
do árbitro futebolístico, que por cautela já sumira da cidade.
No fórum, com todos os personagens da cena judiciária
tomados pelo momento cômico, o juiz relaxou e arrematou:
- Superado o constrangimento causado por incontroláveis
emoções futebolísticas, prossiga-se com a audiência.
Fonte:
www.espacovital.com.br
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