quarta-feira, 17 de maio de 2023

CARRUAGEM COM COCHEIRO

Ruy Castro
Uma amiga tomou um Uber no Leblon e mandou tocar para a rua Paissandu. O motorista digitou na maquininha e esta o informou de que a rua Paissandu ficava em Nova Iguaçu, na região metropolitana do Rio —a 28 km da rua Paissandu, no Flamengo, que era aonde a passageira queria ir. Por sorte, ela não custou a perceber o absurdo. Para o aplicativo, a histórica rua de palmeiras centenárias era a segunda opção relativa a este nome.

Ninguém mais se espanta quando um motorista do Uber admite não saber chegar a lugar nenhum sem o aplicativo. O problema está em ele não saber também usar o aplicativo. Se este o mandar atirar-se no mar ou do alto do viaduto, ele o fará.

Mas, pelo que me dizem, logo tudo será passado. Quando chegarem os carros autônomos, os motoristas do Uber estarão tão extintos quanto os taxistas e os pterodáctilos. Indo a qualquer lugar —não importa onde esteja—, bastará um clique no celular para que um carro sem motorista se ofereça a você em 30 segundos, já com a porta aberta e seu destino gravado na memória. Como?

Simples. As pessoas, se quiserem, continuarão indo de carro para o trabalho. Mas, lá chegando, o carro prosseguirá sozinho pelas ruas, parando em algum posto para tomar uma ou prestando serviços, como aceitar passageiros —e, com isso, pagando a própria gasolina. Uma central saberá o paradeiro de todos esses carros e um deles é que se aproximará para apanhá-lo.

E quem sabe a memória dele não terá espaço para a história? Assim, ele saberá que a rua Paissandu, uma das mais queridas dos cariocas, é aquela que liga a Praia do Flamengo à antiga rua Guanabara, hoje Pinheiro Machado, onde ficava a residência da princesa Isabel, hoje Palácio Guanabara. A princesa a tomava diariamente em sua carruagem —com cocheiro—, a caminho do banho de sol.

Fonte: Folha de S. Paulo

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