Um dos motivos para o Rio ter sediado à
perfeição tantos grandes empreendimentos nos últimos 15 anos — a conferência da
ONU Rio+20, a Jornada Mundial da Juventude (com a presença do papa Francisco),
os Jogos Pan-Americanos, boa parte da Copa do Mundo, a Olimpíada, a
Paraolimpíada, seis edições do Rock in Rio e 15 gloriosos Réveillons — foi o
tempo firme, ensolarado, que banhou a cidade quase todos os dias nesses eventos.
Para alguns, isso era obra da Fundação Cacique Cobra Coral,
uma organização dedicada a "interferir em fenômenos naturais",
fazendo chover ou, ao contrário, mandando chuvas e trovoadas para longe,
segundo a vontade do cliente. Tudo isso a poder de rezas, rituais, muita fé e
contratos com os governos interessados. No Rio, essa relação começou em 2001,
sob o então prefeito Cesar Maia, e prosseguiu pelas administrações do atual
prefeito Eduardo Paes.
A fundação tem sede em Guarulhos (SP). Sua presidente é a
médium Adelaide Scritori, que diz incorporar uma entidade umbandista chamada
cacique Cobra Coral. O cacique não é infalível. Num dos primeiros dias da
Olimpíada, choveu e ventou muito no Rio. Mas, segundo Adelaide, o vento varreu
os dejetos da baía de Guanabara e permitiu as competições de vela nos dias
seguintes.
Eduardo Paes está de saída, e duvido que o futuro prefeito
do Rio, seja Marcelo Crivella ou Marcelo Freixo, vá recorrer ao cacique.
Crivella é evangélico, Freixo é marxista — missionários para os quais nada
existe fora de suas respectivas bíblias. Resta ver se continuará dando praia no
Rio nos próximos quatro anos.
Quanto ao cacique, talvez já prevendo essa dispensa, embarca
esta semana para Pequim. Foi contratado pelo governo chinês para reduzir a
poluição de suas cidades através de chuvas e ventos. Revolução cultural é isso
aí.
Fonte: Folha de S. Paulo - 05/10/2016
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