O mapa, a vida pendurada na parede
Caro Mr. Miles: tenho vários mapas em casa; acho que sou
mesmo um colecionador. O senhor também gosta de atlas ou mapas-mundi?
Sinésio Abranches, por email
Well, my friend: eu também gosto muito de cartografia.
Observar o mundo reduzido a um pedaço de papel, seja grande ou pequeno, é um
prazer que me acompanha desde pequeno. Esse hábito, I guess, foi muito
relevante para moldar minha vida de viajante. Do pequeno e sempre chuvoso
condado de Essex aprendi a ver o planisfério e sempre alimentei o desejo de
conhecê-lo em suas fronteiras mais distantes. Minha querida tia Gwineth, que
ainda mora em Leicester, possuia um antigo mapa da National Geographid Society
pendurado em sua sala. Era, indeed, o destaque do pequeno ambiente, porque
tinha medidas colossais. Ainda garoto, lembro-me de subir em uma pequena escada
de cozinha para ler nomes mágicos como Katmandu, Zanzibar, Bombaim, Mandalay e
Timbuctu, for instance. Eram palavras que, believe me, transportavam-me para
histórias longínquas, com seres vestindo trajes antigos, falando dialetos
remotos e enfunando velas encardidas nos mais diversos tipos de embarcação. Eu
chegava a sentir aromas que nunca respirei e a ver mulheres mitológicas pelas
quais nutri amores platônicos.
Via as cores nos mapas e supunha que os países pintados em
verde eram cobertos de florestas, que os vermelhos ardiam em chamas, os azuis
serviam como imensas piscinas e os amarelos tinham poeira por toda a parte —
com ouro aqui e acolá.
Só mais tarde, my friend, vim a entender que aqueles eram
mapas políticos e registravam fronteiras semoventes; que aqueles traços
envolviam nacionalidades, religiões, ideologias — e toda essa foolery que ainda
hoje desgraça nosso planeta. Foi assim, by the way, que aprendi a me encantar
com cartas geográficas e geomorfológicas. A ver rios, cordilheiras, desertos e
áreas congeladas. A descobrir, por fim, que nem todos os países são parecidos e
que, therefore, é nosso direito explorar lugares diferentes como se fossem nossos
— sob a pena de passar a vida sem conhecer os sofás da própria sala.
Don't you agree, Sinésio?
Aprendi, mais tarde, a ver as deformidades oriundas da
projeção de Mercator, que fazem, por exemplo, a Groenlândia parecer tão grande
quanto a América do Sul, embora ela seja, de fato, oito vezes menor. In other
words: foram os mapas que me ensinaram também que nem tudo é o que parece e por
isso é preciso viajar muito — para ter a real dimensão das coisas —, e sem
ideias preconcebidas das culturas, dos hábitos e do modo de ser das pessoas.
Os mapas, enfim, servem para muito mais do que apenas ver
aonde estamos e para onde queremos ir: eles são a vida pendurada em paredes ou
nas páginas dos livros. Só não deviam servir para que neles sejam postos
alfinetes, uma prática de pessoas que, in fact, nunca viajam, mas apenas
colecionam destinos.
Fonte: Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário