Todos os dias de todos os tempos
Sim, ele está no Brasil! Confirmando as previsões, o grande
viajante britânico decidiu passar o fim de ano entre nós. Mas, contrariando-as,
resolveu ir para Itacarambi, 670 quilômetros ao norte de Minas Gerais ao invés
de Itacaré, onde sua possível presença tornou o ambiente muito denso de
expectativa. Itacarambi fica ao lado do rio São Francisco, poucos quilômetros
além de Januária, aonde Mr. Miles viveu um antigo romance. O objetivo de sua
viagem foi revelar — aos brasileiros e ao mundo — a existência do Parque
Nacional do Peruaçú — uma das maiores preciosidades desse país, infelizmente
escondida de sua população por alguma decisão mesquinha e impensada dos
gestores do Ibama.
Trata-se de uma imensa reserva, com cavernas, dolinas e rios
cristalinos onde fica, quiçá, a maior concentração de pinturas rupestres do
Brasil, com painéis que ultrapassam os dez metros de largura e os cinco de
altura. "It's a shame, my friends. Algum bastard bem intencionado fechou a
porta desse paraíso com as chaves da burocracia. Ninguém entra, ninguém vê. Se
Peruaçu ficasse nos anéis de Júpiter, pelo menos algum telescópio da Nasa
permitiria que o vissemos. However, aqui não há jeito. Ou... há, tanto que passei
o dia por lá, de forma absolutamente clandestina."
Indignado, mas feliz com o que pode melhorar no ano que
chega, nosso correspondente inglês compartilha seus melhores votos de ano novo
a todos os que o acompanham.
A seguir, a correspondência da semana:
Mr. Miles: quantos anos-novos existem no mundo?
Nair Vasconcellos Brille, por email
Nice question, my dear! Para nós, ocidentais, o Ano Novo ocorre quando os fogos explodem em Copacabana, na Trafalgar Square ou em Times Square. Sempre na noite de São Silvestre. Não vou fazê-la perder tempo explicando as razões dessa data específica, mas ouso dizer que, se tivermos a paciência de estudar as diferentes culturas do mundo, sejam elas ainda ativas ou não, quase todo dia do ano há uma festa em algum lugar. Can you believe me?
Há anos solares, lunares e lunosolares. Há anos hebraicos,
chineses e assírios. Há anos babilônicos, cingalêses, talêmicos, nepaleses and
so on. Dispensável dizer que para cada tipo de festividade, há uma quantidade
respeitável de costumes, hábitos e manias como as nossas — que incluem de roupa
branca a lentilhas e sete pulinhos no mar.
Quem está com a razão?
Ninguém, of course. Ou, todo mundo, indeed. Rituais de passagem, sejam eles religiosos, políticos, zodiacais ou mesmo futebolísticos, são sempre convenções aceitas por um determinado grupo de pessoas. Os representantes da etnia X resolvem que o melhor dia para festejar a passagem do ano ocorre em meados de março. Outros, como nós, preferimos o final de dezembro. Não duvidem, my friends: nada começa e nada termina caso não determinemos que assim seja.
Ouso supor que o homem criou esses rituais de passagem para diminuir a monotonia do tempo e ter novas oportunidades de recomeço. Therefore: se o ano está ruim, graças a Deus está chegando ao fim. Se foi bom, então tudo indica que vai melhorar.
Somos assustados e esperançosos reféns das datas que, supostamente, mudam tudo — mesmo que, quase sempre, elas não mudem nada. Mas, através delas deixamos para trás o que nos trouxe dor ou o que nos realizou. Lembramos, assim, que as coisas sempre podem mudar — e o que hoje parece impossível, amanhã será diferente. Mesmo que isso ocorra todos os dias de todos os tempos.
Fonte: Facebook
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