Viaje — e deixe a crise por aqui!
No Condado de Essex, aonde nasceu e foi criado, Mr. Miles
aguarda que suas meias sejam cerzidas e que seu antigo sapateiro providencie
meias-solas para seus desgastados calçados de viajante. A seguir, a pergunta da
semana:
Querido Mr. Miles: gosto muito de sua coluna e vejo que o
senhor é um grande entusiasta das viagens, sobretudo fora do Brasil. Pois agora
quero ver: com o dólar a 4 reais, que argumento o senhor pode ter para
convencer um brasileiro a sair do país? Um beijo,
Renata Pinolli, por email
Well, my dear, antes de mais nada agradeço pelo beijo. Ouso,
mesmo, enviar um de volta se lhe aprouver. Em segundo lugar, quero lhe dizer
que sou, in fact, um aficcionado pelas viagens, mas não apenas em outras partes
do mundo. O Brasil é um país para vinte mil viagens diferentes, tão diversas
são suas atrações. Ou seja: um ótimo lugar sempre — e especialmente quando as
condições econômicas para viajar ao exterior tornam-se adversas.
However, minha recente viagem ao norte de Minas Gerais,
ainda que extraordinária, fez com que eu percebesse o tamanho da desilusão que
tem tomado conta de seus compatriotas em função das diversas crises que assolam
o país. Percebi, entristecido, que a maior parte das pessoas anda combalida.
Sou capaz de dizer que, pior do que as demais, a enfermidade que assola o país
é a tristeza. Os brasileiros, usually tão bem-humorados estão infelizes. Todos
os dias as noticias parecem piores. As chicanas dos diversos poderes da Nação
parecem ter produzido o efeito da desesperança. Não há heróis, nem atos
heróicos. Ninguém vê grandeza em suas lideranças. O Brasil está, my God,
acabrunhado.
Eis, portanto, claro e evidente, o novo argumento que tenho
para lhes oferecer: viajem para escapar da crise. Ao contrário das crises
internas que embarcam conosco smpre que viajamos, a atual crise brasileira é
limitada às suas fronteiras, seus jornais, suas televisões e suas redes
sociais. Basta desembarcar, for instance, em Londres ou em Montevidéu, que ela
simplesmente desaparecerá. Aqui, na terra da rainha, você não verá ninguém
chorando dia após dia em função da desvalorização da libra, porque ela não
acontece. Perdemos mais tempo fofocando sobre a corte do que discutindo
impeachment — disso não há a menor dúvida. Nossos ministros da fazenda não
parecem perdidos como baratas tontas. Nosso parlamento também tem, of course,
figuras estranhas, mas não parece um balcão de negócios repleto de vendilhões
da pátria.
Você não vai precisar passar o dia descobrindo que seus
amigos falam bobagens nas redes sociais e, se não abri-las (o que eu recomendo
com vigor), não vai ter a tristeza de deletar amigos porque eles não pensam
como você ou porque tornaram-se agressivos e, I'm sorry to say, até violentos.
No, my dear Renata: fora do Brasil, não há crises
brasileiras. Há outras, mas jamais as vossas. Therefore, além de conhecer
lugares novos, atrações que você sempre sonhou em ver, gente com outro astral
(e que, by the way, quase não faz ideia de quem seja Dilma ou Eduardo Cunha e
jamais ouviu falar em Cerveró), você vai estar longe da crise. Eis, portanto,
darling, mais um argumento para viajar. E que vale cada um dos quatro reais que
o dólar custa. Um argumento diferente e que só vai valer enquanto a crise
durar. Porque, assim que ela acabar, a alegria estará de volta, o real voltará
a ter valor e viajar vai ser uma moleza. Don't you agree?
Fonte: Facebook
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