Martha Medeiros
O que impede o avanço de algumas iniciativas é a ausência do
fator uau e está dito, nada a acrescentar. Estava assistindo pela tevê uma
matéria sobre o legado que a Olimpíada de Londres deixou em 2012, quando me
deparei com uma expressão que explica muita coisa que acontece na vida da
gente. Eles citaram certos prédios ingleses que prometiam ter vida útil depois
dos Jogos, mas que se transformaram em elefantes brancos porque careciam do que
os britânicos chamam de Fator Uau.
Fator uau? Que poder de síntese. Duas palavrinhas, sendo que
uma delas nem palavra é, e sim uma força de expressão, uma onomatopeia, sei lá:
como se classifica “uau” dentro da gramática?
O que importa é que me valeu por inúmeras sessões de
terapia, eu que já nem faço terapia. O que impede o avanço de algumas
iniciativas é a ausência do fator uau e está dito, nada a acrescentar. Nem
precisaria continuar com essa reflexão, mas como tenho uma coluna para
preencher, continuarei, pegue uma carona comigo se interessar.
Você conhece uma pessoa simpática, inteligente, enfim, com
os atributos básicos para motivar você a tomar ao menos um café com ela. E aí a
relação de amor ou de amizade se inicia, corre tudo bem, mas você não consegue
levar adiante por muito tempo e seus amigos não entendem a razão de você ter
desistido tão cedo. O que aconteceu?
Não aconteceu nada. Justamente isso. Nada. Faltou o fator
uau, o encantamento diante do sorriso do outro, de suas histórias, de seu
jeito. Faltou a palpitação diante da promessa de um novo encontro, faltou
contar no relógio quantas horas faltavam para revê-la, faltou a sensação de ter
em mãos um bilhete premiado, faltou o fascínio. O indispensável fascínio.
Você confere, gosta, mas não pretende repetir a experiência.
Quantas vezes já passamos por isso, e não falo apenas sobre encontros pessoais,
mas também de visitas a cidades, idas a restaurantes, leitura de livros.
Você lê um autor e pensa: ok, não foi um tempo perdido. Mas
não correrá até a livraria para adquirir todos os títulos dele que encontrar.
Você conhece Berna e pensa: ok, bela cidade. Mas não volta à
capital suíça como já voltou, ou pensa em voltar, a Paris, Istambul, Marrakesh.
Você jantou em diversos locais uma única vez e nunca mais. A
comida estava ruim? Não exatamente. O ambiente era bonito? Bonitinho. Animado?
Mais ou menos. O que aconteceu? Nada.
Ao contrário da garotada aventureira que se empolga com tudo
e tem tempo de sobra para construir seu repertório, você não tem mais tanta
vida pela frente para desperdiçar com o que não excita, não surpreende, não
deixa você entusiasmado de verdade. Se é para ser meia-boca, mais vale deixar
pra lá e dedicar-se a seus prazeres confirmados. Ok, bela cidade. Ok, jantar
agradável. Ok, consegui me manter acordado durante a conversa. Mas ok é ok. Não
é uau.
Fonte: facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário