Fabrício Carpinejar
Eu venho organizando o meu casamento no religioso com
Beatriz, e já dá para compreender o nível de loucura que envolve a cerimônia.
A paciência é a primeira a desaparecer com o excesso de
detalhes e miudezas de orçamento. Casar é como reformar a residência, você
estabelece um preço na teoria e termina sendo o triplo na prática - os
pedreiros faltam nos dias de chuva, os materiais mudam conforme a demanda, o
acabamento jamais é como imaginou. No matrimônio, a exemplo das construções,
paga-se caro por não ser profeta e não se programar para os imprevistos.
Mas o ponto que gostaria de chamar atenção é que aquele que
casa precisa manter o equilíbrio entre vida pessoal e comemoração. Não deve
permitir que a festa se torne maior do que o amor. Pois a festa pode vir a ser
a fachada de um amor moribundo.
Os noivos se esmeram na empreitada da recepção de seus
convidados e muitas vezes esquecem do básico: de cultivar um ao outro, de
realizar mimos e surpresas um para o outro. O que originou o evento - o contentamento do par - perde-se nos
resultados.
É a explicação para tantas desistências cinematográficas e
inexplicáveis de casais na véspera do altar. Realizam o improvável, jogam tudo
para cima, sem receio do desperdício. Renunciam presentes, fábulas investidas,
lua de mel agendada. Põem fora anos de idealização de evento. Outrora pombos
que se beijavam em pleno voo de repente passam a se bicar e grasnar como
corvos.
Eles se abandonaram ao longo dos preparativos - tornaram-se
estranhos e formais. Brigaram excessivamente desde a escolha dos convidados até
a cor da toalha de mesa e das flores no salão e não encontraram, em nenhum dos
casos, a humildade do humor (único antídoto às discussões que conheço).
Não é que não se amavam, deixaram de amar. Amar é esforço,
dedicação, disciplina. Não dá para ficar meses sem alpistar o coração de seu
par. Diante do descaso, qualquer um morre sentimentalmente de inanição. O que
adianta realizar um sonho e, ao mesmo tempo, descuidar da realidade? O que
adianta preparar uma apoteose para os amigos e familiares às custas de um
período de indiferença a quem se ama?
Com o casamento, casais apenas se preocupam em quitar as
contas, resolver as tarefas e abdicam de namorar e transar. Transformam-se em
empresários assexuados, negociando descontos e formalizando contratos. Óbvio
que o corpo vai se rebelar, óbvio que o estresse desencadeará na derrubada das
certezas.
Preocupados com a aparência, desprezaram a motivação de
acordar lado a lado. Não cantam, não dançam e não se divertem mais juntos.
A ansiedade é uma fábrica mental que transforma toda a
felicidade em angústia. A alegria de uma viagem pode acabar virando o pânico de
organizar a mala. A alegria de uma festa pode gerar o pânico de escolher a
roupa. A alegria de casar pode desencadear o pânico da perfeição.
Antes de trocar a aliança da mão direita para esquerda, faça
uma tarefa de cada vez, e muito amor entre elas.
Fonte: Facebook - Out/2016
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