terça-feira, 14 de dezembro de 2021

ROMANCE FORENSE

O advogado burro e o deputado (in) escrupuloso

A contestação a uma ação de despejo era reveladora que seu signatário não tinha o mínimo de formação cultural. “O primarismo é palmar, de ignóbil nível de conhecimento jurídico, com erros crassos de português”. – informou o juiz à OAB.

O magistrado se espantara com o pouco conteúdo jurídico e a inexistência de nexo - entre fatos e negações - de uma contestação a uma ação de despejo que lhe chegou ao gabinete.

O magistrado vira, também, que algumas longas frases se estendiam por quatro ou cinco linhas. E que o comum era o texto conter uma vírgula antes de – logo adiante – prosseguir em mais duas ou três outras linhas que, sem pontuação, mudavam completamente de assunto.

Em linguagem jornalística, era um calhamaço. Pior: o ´conteúdo´(?) tinha grafias como “denumciados", "vestijos", "emediatos" e "posivel".

O juiz, então, conferiu e comprovou: o advogado era diplomado em Ciências Jurídicas e Sociais e estava regularmente inscrito na Ordem.

Foi por isso que o magistrado enviou à seccional da OAB um ofício contundente: “Escuso-me por expressar minha avaliação de que a contestação se revelou de um primarismo palmar, de ignóbil nível de conhecimento jurídico, com erros crassos de português e sem o mínimo de formação cultural".

O juiz arrematou: "Como essa entidade é órgão de seleção disciplinar e de defesa da classe dos advogados, acredito seja de seu interesse apurar as razões da inépcia desse integrante de seus quadros”.

Eram os anos noventa. Foi o ponto de partida, então, para que a OAB de São Paulo - destinatária da carta enviada pelo atento juiz - liderasse um movimento nacional entre as congêneres, e com forte apelo e apoio políticos no Congresso. Foi assim que, em 1994, o então novo Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906) passou a estabelecer: “Art. 8º - Para inscrição como advogado é necessário: (...) IV - aprovação em Exame de Ordem”.

Agora em 2015, o estranho deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) procura mover o que estiver à sua frente para tentar extinguir o Exame de Ordem. Autor da frase “o povo não está nem aí para o que eu digo, só pega a última frase", o presidente da Câmara Federal já foi comparado ao protagonista Francis Underwood - da série (EUA) ´House of Cards´ - que encarna um parlamentar inescrupuloso capaz de qualquer coisa para alcançar as ambições.

Mas Cunha ri e diz que “o cara é ladrão, gay e corno – e assim não posso me identificar com um cara desses”. 

Fonte: www.espacovital.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário