SUPERAVIT, SUB EXAMINE E HABEAS CORPUS
--- Por que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
(PVOLP) da Academia Brasileira de Letras (ACL) coloca acento gráfico na palavra
superávit sendo que não há regra que o justifique? Agnaldo Martino, São Paulo,
SP
Vamos tratar junto de déficit e hábitat, que configuram a
mesma questão. O PVOLP editado em 1999 pela ACL trazia os dois registros:
superavit - o próprio latim - e superávit, “do latim superavit”. O Vocabulário
Ortográfico (oficial) editado em 2009 não traz os dois registros em latim. Só
registra défice, que é a forma atualmente usada em Portugal. No Brasil
prefere-se a grafia com o acento, porque facilita a leitura. Aliás, a
acentuação gráfica nos três vocábulos tem o mero papel de informar a
tonicidade. Senão vejamos:
- Dé – fi – cit
- Há – bi – tat
- Su – pe – rá – vit
Como se observa, não é possível afirmar que o acento nessas
palavras se justifica porque elas são proparoxítonas, como assim as denomina
Napoleão Mendes de Almeida no seu Dicionário de Questões Vernáculas (1981:
305). Se as duas primeiras são proparoxítonas,
a última não pode ser.
PLURAL: superávits, déficits e hábitats
Em Portugal resolveu-se a pendenga de outra maneira: a
grafia de deficit é défice. E superávit? Fui informada de que não é termo
vulgarmente usado – preferem “excedente”. Mas poderia e poderá ser
aportuguesado como “superávite”, não?
De minha parte, ainda prefiro as formas acentuadas que estou
acostumada a ver em revistas e jornais, mesmo que não haja coerência nessa
grafia!
SUB EXAMINE
Nos meios forenses é comum a dúvida entre a grafia “sub
examen” e “sub examine” quando se pretende dizer que a matéria está sendo
examinada ou está “sob exame”.
Já vai longe o tempo em que estudei latim, mas tive
condições de verificar a questão baseando-me na locução adverbial in limine
(desde logo, no início), originada pelo substantivo limen, que significa
“limiar, entrada”; o caso nominativo é limen; liminis o genitivo e limine o
ablativo, caso latino que representa as palavras na função de adjunto adverbial,
em que aparece uma preposição, como in, sub, de.
Então, como examen e limen pertencem à mesma declinação
(neutros da 3ª) temos examen, examinis, examine. Consequentemente, deve-se
redigir sub examine.
HÁBEAS
O Word acentua automaticamente a palavra hábeas. “Mas latim
não tem acento”, surpreendem-se as pessoas. Pois este é um caso parecido com o
tratado inicialmente: no Brasil se vulgarizou o uso de “hábeas” como palavra
proparoxítona no lugar de “habeas corpus”, que é a expressão latina original e
que portanto não levaria nem hífen nem acento. Para que se caracterize o latim
em qualquer texto, as palavras devem ser escritas em itálico, entre aspas ou
sublinhadas. A imprensa, no entanto, como evita o uso desse tipo de destaque,
tem juntado os dois vocábulos com hífen [habeas-corpus] ou utiliza hábeas
simplesmente. Recomenda-se que os operadores do Direito usem o termo em latim
com o devido grifo.
Fonte: www.linguabrasil.com.br
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