O homem que falava por seus silêncios
Mr. Miles: amigo meu ocidental, praticante de Aikido, foi,
há alguns anos, treinar com os senseis no Japão. Lá contaram que o fundador
Morihei Ueshiba (foto) ficara, certa vez, impressionado com a habilidade de um
aluno inglês, que, coincidentemente, usava bigodinho e estava sempre de chapéu
coco. Ueshiba Sensei, sempre tão comedido como geralmente são os grandes mestres,
ficava horas ouvindo as peripécias pelas quais passara esse aluno, agora amigo,
em suas andanças pelo mundo… É só coincidência Mr. Miles?
Kansabulo Sato, por email
Well, Sato San, eis uma faceta de minha vida que sempre
tentei manter em segredo, porque as pessoas comuns confundem o conhecimento de
uma arte marcial com agressividade. As you know, o Aikido não é um esporte de
competição mas o caminho para o espírito harmonioso.
Yes, my friend: tive a inenarrável alegria de conhecer
Morihei Ueshiba, quase sempre chamado apenas de O-Sensei (Grande Mestre).
Durante um periodo de minha vida — curto, I must say, fui ao Japão para tentar
entender a obstinação, a obediência e, why not, a alma guerreira daquele povo.
Conheci diversos sábios e um tipo de lógica que nós, ocidentais, desconhecemos.
Entre todos, o que mais me encantou foi O-Sensei, o homem que falava por seus
silêncios. De alguma forma que nunca compreendi, o simples ato de respirar já
emanava a energia de Morihei Ueshiba.
Aprendi muito com ele: as nuances da beleza, o favor da
reverência e, mais que tudo, o espírito da ética. Além de, by the way, ter me
tornado um modesto aikidôka. Fico muito surpreso que, após todos esses anos,
ainda seja lembrado entre os senseis dessa arte. Deve ter sido pelo tipo de
roupa que eu usava (e ainda uso), I presume. O Grande Mestre começou a me
chamar de Savirô, que é o nome que os japoneses dão aos ternos ocidentais. E eu
lhe disse, eu meu ainda precário japonês, que savirô era um substantivo
derivado de Saville Row, a rua dos alfaiates em Londres.
Morihei Ueshiba achou muita graça naquela explicação e,
desde então, pediu-me que contasse mais histórias sobre o mundo. Foi uma imensa
honra para um modesto viajante como eu poder passar alguns ensinamentos para o
legítimo Grande Mestre.
Para dizer a verdade, Sato San, ainda hoje pratico,
esporadicamente, o Aikidô em alguns templos e escolas ao redor do mundo.
Exercito, assim, a energia que tenho e que me conduz à viajar — o que, as you
know, é a minha perspectiva de harmonia. E sinto falta do Grande Mestre.
Aprendi, também, que, em qualquer circunstância, o bem-estar do oponente tem de
ser preservado. As I see, mais do que uma arte marcial, essa última definição
transforma o Aikidô em poesia.
Estive em Tanabe, na provincia de Yakayama, para acompanhar
a partida do Grande Mestre no final dos anos 60. E ainda hoje sinto-me como um
padrinho do bom Moriteru Ueshiba, seu segundo sucessor e meu companheiro em
deliciosos jantares no Japão. Foi Moriteru, by the way, que cometeu a heresia
de me informar que o melhor blended whisky do mundo era japonês (e não, my God,
o nosso, feito na Escócia!). Pois quando eu provei o Hibiki 21 anos fiquei
astonished. O mesmo ocorreu com minha mascote Trashie. E vejam só: os mestres
japoneses acabaram ganhando, com essa marca, todos os prêmios mais importantes
na categoria blended whisky. Felizmente, my friend, ainda temos o melhor single
malt , que é o Galileo, produzido pela Ardbeg Distillery, na ilha de Islay, no
Reino Unido.
Fonte: Facebook
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