Dear Mr. Miles: viajar é uma fuga ou uma busca? Sua leitora
fiel,
Marilia Linz, por email
Well, my dear: de uma forma ou de outra tenho respondido a
questões como essa desde o início de minha atividade de cronista-viajante.
Terei, however, imenso prazer em retomar essa discussão porque muito me agrada
discorrer sobre as questões maiores que se ocultam atrás do mero ato de
preparar as bagagens, embarcar e transportar-se para outra parte do mundo.
In my opinion, viajar só é um fuga para fugitivos reais,
como meu compatriota Ronald Biggs, que ficou décadas no Rio depois de assaltar
um trem pagador. Ou como este famoso Roger Abdelmassih, um pretenso medico que
estuprou dezenas de suas pacientes para, oh, my God, ajudá-las a ter filhos — e
que agora já foi capturado.
Esteja certo, dear Marilia, que há mais fugitivos reais
espalhados pelo mundo do que supõe nossa vã consciência. Também partem em fuga
vítimas de governos opressores, de guerras civis e de pobreza extrema. E, of
course, nesses casos a fuga é repleta de dor e perda, é o exílio forçado e, em
última instância a movimentação humana que produz povos ricos em diversidade
racial, religiosa e cultural.
Unfortunately, nenhuma viagem serve como fuga dos problemas
de quem viaja. Você está triste? Pois não viaje acreditando que a jornada vai
torná-la feliz. A tristeza, a depressão, o medo, a dor ou qualquer outra agonia
são mais leais do que cães de estimação. Não importa para onde você vá: elas
vão junto com você. Não há armário onde seja possível trancá-las. Não há hotéis
onde você possa hospedá-las enquanto estiver viajando. Meu grande e saudoso amigo,
o doutor de almas Nelson Montag, sempre recomendou aos seus pacientes que
viajassem quando quisessem. Mas, por via das dúvidas, reservava um horário na
agenda para prosseguir o tratamento depois do retorno. “Eles sempre voltam,
Miles. Nossas dores viajam conosco e não desembarcam em qualquer escala”.
Já para buscar, seja lá o que for, nada é melhor do que
partir mundo afora. Até se for para buscar o que você ainda nem sabe que existe
para ser buscado. Esta, aliás, é a grande vantagem que a viagem tem em relação
a buscadores modernos como o Google. É provável que você encontre tudo o que
procura digitando algumas letrinhas na tela de seu computador. O problema,
however, é que você não estará preparado para buscar, caso não tenha partido,
caso não tenha conhecido outros povos, provado outros pratos e entendido outros
costumes. Viajar, como repito e repito, é o ato de buscar. E as respostas não
vêm na forma de sites, blogs, microblogs e toda essa cornucopia de informações
insípidas. Quando você está buscando o mundo, seja do jeito que for, as
respostas virão no aroma das flores, na temperatura do ar, nos sabores dos
temperos, no colorido das tardes, no mistério dos crepúsculos e no ruído das
praças. Melhor que isso: você nem precisa saber o que está buscando e, ainda
assim, as respostas estarão todas na sua frente.
Em outras palavras, dear Marilia, não fuja. Busque. É muito
melhor.
Fonte: Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário