sexta-feira, 24 de junho de 2022

MR. MILES


Dear Mr. Miles: viajar é uma fuga ou uma busca? Sua leitora fiel,
Marilia Linz, por email

Well, my dear: de uma forma ou de outra tenho respondido a questões como essa desde o início de minha atividade de cronista-viajante. Terei, however, imenso prazer em retomar essa discussão porque muito me agrada discorrer sobre as questões maiores que se ocultam atrás do mero ato de preparar as bagagens, embarcar e transportar-se para outra parte do mundo.

In my opinion, viajar só é um fuga para fugitivos reais, como meu compatriota Ronald Biggs, que ficou décadas no Rio depois de assaltar um trem pagador. Ou como este famoso Roger Abdelmassih, um pretenso medico que estuprou dezenas de suas pacientes para, oh, my God, ajudá-las a ter filhos — e que agora já foi capturado.

Esteja certo, dear Marilia, que há mais fugitivos reais espalhados pelo mundo do que supõe nossa vã consciência. Também partem em fuga vítimas de governos opressores, de guerras civis e de pobreza extrema. E, of course, nesses casos a fuga é repleta de dor e perda, é o exílio forçado e, em última instância a movimentação humana que produz povos ricos em diversidade racial, religiosa e cultural.

Unfortunately, nenhuma viagem serve como fuga dos problemas de quem viaja. Você está triste? Pois não viaje acreditando que a jornada vai torná-la feliz. A tristeza, a depressão, o medo, a dor ou qualquer outra agonia são mais leais do que cães de estimação. Não importa para onde você vá: elas vão junto com você. Não há armário onde seja possível trancá-las. Não há hotéis onde você possa hospedá-las enquanto estiver viajando. Meu grande e saudoso amigo, o doutor de almas Nelson Montag, sempre recomendou aos seus pacientes que viajassem quando quisessem. Mas, por via das dúvidas, reservava um horário na agenda para prosseguir o tratamento depois do retorno. “Eles sempre voltam, Miles. Nossas dores viajam conosco e não desembarcam em qualquer escala”.

Já para buscar, seja lá o que for, nada é melhor do que partir mundo afora. Até se for para buscar o que você ainda nem sabe que existe para ser buscado. Esta, aliás, é a grande vantagem que a viagem tem em relação a buscadores modernos como o Google. É provável que você encontre tudo o que procura digitando algumas letrinhas na tela de seu computador. O problema, however, é que você não estará preparado para buscar, caso não tenha partido, caso não tenha conhecido outros povos, provado outros pratos e entendido outros costumes. Viajar, como repito e repito, é o ato de buscar. E as respostas não vêm na forma de sites, blogs, microblogs e toda essa cornucopia de informações insípidas. Quando você está buscando o mundo, seja do jeito que for, as respostas virão no aroma das flores, na temperatura do ar, nos sabores dos temperos, no colorido das tardes, no mistério dos crepúsculos e no ruído das praças. Melhor que isso: você nem precisa saber o que está buscando e, ainda assim, as respostas estarão todas na sua frente.

Em outras palavras, dear Marilia, não fuja. Busque. É muito melhor.

Fonte: Facebook

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