Fabrício Carpintejar
Uma leitora me disse que sabia que a sua relação acabou, mas mesmo assim queria mais uma semana com o seu namorado.
Uma leitora me disse que sabia que a sua relação acabou, mas mesmo assim queria mais uma semana com o seu namorado.
Já estão depois do fim, realmente desgastados, exaustos,
finitos, brigam por qualquer coisa, já não tem paz para sair com os amigos, já
não tem ânimo para dividir o vazio do sábado e domingo, mas ela ficaria
satisfeita com uma simples e inútil sobrevida.
Os dois experimentam a angústia de se encarar por uma frase
libertadora, quando o silêncio cobra os pensamentos, quando o mal estar da sala
não acaba no quarto, mas ela ainda anseia prolongar, em sua própria
expressão, "o pequenino amor"
deles.
Se antes o coração pagava um mês de aluguel agora arca com
diárias onerosas de hotel. Mas não importa, ela se esforça por manter um naco
de tempo com ele.
Óbvio que vê o imponderável da divergência, o atrito
permanente, a incompatibilidade póstera, mesmo assim está preocupada em
assegurar que a despedida não aconteça hoje, que possam dormir mais uma noite
lado a lado e passar mais uma manhã frente a frente.
Ela tentou de tudo para salvar o romance: explodiu, chorou,
esmolou, fugiu, voltou. Guarda a serenidade de que não resta esperança. Mas ela
não desiste da teimosia para aumentar o prazo. Não abdica da elasticidade
morta, de alargar o que não será mais usado, de adiar a data do óbito e esticar
a mão do aceno.
A noção do fim não a impede de continuar a convivência.
A princípio, ela me pareceu sadomasoquista, louca,
possessiva. Por que lutar por aquilo que se mostrava falido? Por que jogar fora
a energia com uma causa perdida? Por que não partia para outra?
Quanta estranheza em uma única atitude. Eu não percebia nexo
em insistir no relacionamento que deu errado, em permanecer junto sem futuro. O
namoro não prosperaria em casamento e filhos, qual a lógica?
Depois fui me conformando com a incoerência e imperfeição da
vida, que nem toda a faísca é menos por não se transformar em fogo.
O muito é sempre pouco, então que o pouco seja também muito.
Que este pouquinho a mais acrescente sentido à saudade ou que aumente a nitidez
das lembranças. Que as semanas sejam horas, que as horas sejam minutos.
Dentro da minha antipatia encontrei inveja. Dentro da inveja
encontrei admiração.
Aquilo era uma entrega absolutamente honesta: ter
consciência da morte, mas morrer com todo amor um dia de cada vez.
Fonte: Facebook
Fonte: Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário