É possível viajar errado, mas errado é não viajar
Um estafeta astuto e persistente logrou encontrar Mr. Miles
em um bar da Lapa, no Rio de Janeiro, chamando mais a atenção das belas cariocas
ao seu redor do que um jogo de futebol do Brasil pelas Olimpiadas. Mr. Miles
recebeu a carta suavemente caligrafada de sua leitora Tereza Rocha, que contou
ter feito, como compositora, parcerias com Drummond, Ferreira Gullar e Mário
Quintana — só para citar velhos amigos do viajante britânico. Na expectativa de
conhecê-la pessalmente, nosso correspondente agradece "à bondade de suas
palavras."
A seguir, a pergunta da semana:
Mr. Miles: existem viagens erradas? Quero dizer: pessoas
mal-informadas podem acabar em lugares que não sonharam?
Rodolfo Viettes, por email
Well, my friend: em teoria, só são equivocadas aqueles
viagens — raras, by the way — em que o viajante erra o caminho ou sobe em um
ônibus ou trem que parte em direção diferente da desejada pelo pobre cidadão.
Chamamos a isso de distração. Ocorre, em geral, com pessoas confusas ou
ligeiramente embriagadas — e apenas quando os checadores de passagem também
estão com a cabeça na lua.
However, existem viagens erradas de fato. São aquelas em que
a expectativa do viajante não combina com a realidade do destino. A maior parte
delas é provocada por desinformação. Alguém que viaje ao Caribe entre agosto e
outubro dificilmente encontrará o sol mágico e eterno dos panfletos de agências
de viagem. Nessa época é mais provável sofrer com a chuva ou, pior, com o
horror de um furacão. Existe até um ditado em inglês sobre o clima caribenho:
"July? Stand by! August? A must! September? Remember! October? All
over."
Para evitar incorrer nesse tipo de erro, informação é o
único jeito. Ou — why not? — corra o risco. Não existem meses mais baratos do
que esses para viajar pelas Indias Ocidentais. E os furacões, of course, podem
sempre passar ao largo.
Há, também, viagens com expectativas inadequadas. Quando
você escolhe um pacote barato, é preciso estar preparado para hotéis que não se
destacam pelo glamour ou pela localização. Há, é claro, a possibilidade de
antever a hospedagem na internet. Mas, cuidado: as poderosas grande-angulares
estão sempre prontas para transformar uma pequena toca numa linda caverna. Do
you know what I mean?
Nevertheless, a viagem equivocada, dear Rudolf, é aquela que
frustra as expectativas de quem viaja. A Polinésia, por exemplo, é um dos
lugares mais fabulosos do planeta para receber casais apaixonados, em fase de
apaixonar-se ou em fim de paixão. Assim também são as Maldivas. Mas quem for a
um desses destinos em busca de balada, atividades familiares ou mera
prospecção, vai dar com os burros n'água. Assim como quem achar que é possível
fazer viagens econômicas para lugares desse tipo. Não: nem pense nisso. Esses
destinos só são fabulosos se aproveitados em toda o seu alcance. É preciso
ficar nos mais belos overwater bungalows (bangalôs sobre as águas), dar atenção
às mordomias, à gastronomia e aos spas. É preciso ter o terrível desapego de
jamais olhar para a coluna da direita nos cardápios e constatar que seu vinho
está custando quase tanto quanto um vinhedo e que seu hamburger, sometimes,
daria para comprar uma lanchonete.
Desapegue-se, my friend: venda o seu segundo carro, penhore
a joia que está na sua familia há seis gerações ou, my God, assalte um banco.
Mas há lugares para os quais é preciso ir em grande estilo. Ou,
alternativamente, deixar para depois.
Anyway, my friend, errado mesmo é não viajar. Por medo de
errar ou por qualquer outro motivo, a pior das falhas que alguém pode cometer é
deixar de conhecer o mundo a que ela pertence. Don't you agree?
Fonte: Facebook
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