Fabrício Carpinejar
Quando você começa uma relação o hábito é comparar a atual
com a anterior. Sempre existe um paralelo consciente ou involuntário: ela fazia
isto, ela não fazia isto. É um cotejamento passional, nada reflexivo,
impregnado de comentários irônicos tipo "escapei de uma fria".
A estratégia é fortalecer o romance que se inicia para os
amigos e familiares e se recuperar do desgaste da recente imagem da separação,
feita de brigas e chantagens.
Separar-se é o equivalente a perder uma eleição - assim como
manter uma relação por mais quatro anos é tão difícil quanto ser reeleito. Não
subestime o recalque das urnas amorosas e a aceitação amarga e inevitável do
índice de rejeição. O comum é lembrar eternamente da derrota mesmo diante de
outras vitórias.
Não tem muito o que fazer para evitar o paralelo. Amar de
novo é sobreposição. Amar de novo é cicatrizar o orgulho ferido. Amar de novo é
trocar o domicílio eleitoral e retomar o percurso em território desconhecido e
hostil. Toda a intimidade que acumulou antes não serve mais para nada.
Representa um período de seis meses de bigamia imaginária, observando
quem lhe acompanha e lembrando ao mesmo tempo de quem não está mais junto.
Alguns não aguentam e cometem atos falhos e liquidam
relacionamentos promissores no nascedouro.
Não se envergonhe, portanto, da duplicidade. Entrará no jogo
sujo da dor, repleto de inveja e ciúme.
Até porque só se descobre a autenticidade do amor depois da
separação. Conviverá com pessoas mortas e vivas em seu coração e terá
dificuldade para reconhecer quem desperta saudade ou culpa.
Você sofrerá rápidas e silenciosas recaídas, mas não
confessará - serão
apertos, desconfortos, lembranças, para esvair completamente
a ação do antigo relacionamento em seu sangue.
Dentro das palavras, viverá um duelo entre duas performances
e atitudes. Realizará um balanço
subterrâneo de quem é a melhor e se realizou a escolha mais acertada.
Paixão é quando você ainda compara, já o amor é quando a sua
mulher torna-se incomparável.
Fonte: Facebook
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