Shame on us!
Da Bélgica, onde foi dar sua força pessoal aos atarantados
funcionários da União européia, nosso viajante manda sua correspondência desta
semana:
A pergunta cuja resposta todos querem ouvir, Mr. Miles. O
que o senhor achou da decisão de seus conterrâneos de abandonar a Comunidade
Europeia?
Mendel Haim, por email
Well, my friend, só tenho a lamentar. Shame on us!
Apequenamo-nos. E não vou vou falar sobre consequências políticas, tampouco me
referir ao fato de que, em sua alma, todo inglês acha que nunca fez parte da
Europa; foi a Europa que fez parte da Grã-Bretanha. Essa nossa famosa soberba
ficou na História quando o Times, de Londres publicou a famosa manchete
"Tempestade no canal; a Europa está isolada."
However, sempre tivemos o fairplay e o humor para amenizar
essa injustificável posição de superioridade. Se é verdade que, um dia,
comandavamos um império onde o Sol nunca se punha, não é menos verdade que, ao
recebermos os descendentes de nossos colonizados décadas depois, tornamo-nos
uma referência em tolerância. Nossas ilhas foram repovoadas por indianos,
paquistaneses, caribenhos e árabes, que voltaram para cobrar, fairly, sua
dívida cultural. E assim como seguimos caminhando pelas ruas com nossos bowler
hats, como o faço até hoje, nunca nos importamos com os turbantes ou os keffieh
de nossos ilustres visitantes.
Meus queridos leitores sabem que sou um universalista e
acredito que esse pequeno e belo planeta pertence a cada um de nós — e seria
mais bem-cuidado se o víssemos como nosso próprio quintal. Nesse sentido, dear
Mendel, a globalização sempre me pareceu um avanço. A aproximação, o
entendimento, o encontro, a compreensão da diversidade. Não fosse isso, nós,
ingleses, continuaríamos comendo apenas kidney pies (N.da.R.: tortas de rim) e
fish & chips. Foi a integração que nos melhorou a gastronomia, a economia
e, last but not least, até mesmo o futebol — como negócio.
On the other hand, nunca fomos verdadeiramente comunitários.
Somos uma ilha e agimos como ilhéus. O plebiscito, I must say, foi democrático
e, portanto, inquestionável. Seus resultados mostram que temos mais hooligans
do que gostariamos e mais medrosos do que temiamos. Nações poderosas juntam-se
porque podem comandar — e não porque receiam ser comandadas.
A grande festa dessa decisão anacrônica está sendo feita
pelos burocratas, pelos fabricantes de carimbos e pelas pequenas autoridades.
Essa súcia vive de pequenos obstáculos e normas inúteis. Ela ainda cuida de
muralhas que já não existem e esquenta o azeite para jogar sobre a cabeça de
inimigos que sequer sabem onde ficam as velhas pontes levadiças. Oh, my God! A
única norma pela qual tenho respeito é minha tia Norma, de Birmimngham, que, by
the way, votou remain.
Pretendo passar algum tempo longe de minhas queridas e
úmidas ilhas, assim como me afastei da Itália nos tempos em que Berlusconi
caçava imigrantes. Não sei o que será da Escócia, que provavelmente vai no
abandonar — mas já garanti à minha querida Trashie que em nossa pequena casa
no condado de Essex, jamais faltará um whisky bastante envelhecido ou um single
malt. Repito: shame on us. Minha única possível alegria — unfortunately — é
acreditar que, quanto menores nos tornamos, menos influentes somos e nossa
pequenez não deverá desmontar a Europa toda. So help us God.
Fonte: Facebook
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