Fabrício Carpinejar
A minha teimosia ajuda a esperança.
Não imagino de onde tiro tanta força de vontade, mas não me
entrego mesmo quando nada está a meu favor. Vou comendo o desespero pelas
beiradas até a dor esfriar. Não maldigo o escuro, ele evidencia a lua e as
estrelas.
Não gosto de trapacear a vida. Não estrago a minha
resistência com drogas ou bebidas, não quero que nenhuma substância receba o
mérito de minha alegria.
Sou incansável mesmo. Louco de sóbrio. Quando algo é
impossível eu cultivo cada passo, caminho até ficar perto dos limites. Depois
de me aproximar dos limites, disfarço, finjo que não é comigo e ultrapasso as
marcas.
Desobedeço o tempo pois vivo dentro das palavras.
Já era assim de menino. Quando jogava bola na rua e quebrava
a vidraça do vizinho não corria para me esconder como os meus colegas de
bairro. Permanecia ali observando o estrago e ainda imaginando um jeito de
recuperar a bola. Eu me enchia de coragem, apertava a campainha da vítima de
nossa malandragem, explicava o que tinha acontecido ao dono furioso,
justificava o chute sem querer e a ausência de talento da mira, jurava que
consertaríamos a janela e recebia a bola de volta. A educação sempre foi a mãe
de meus gestos, para o bem e para o mal, para os desastres e acertos.
Vergonha é não pedir desculpa. Quem nunca se desculpou não
saiu do lugar, preso à soberba de jamais se achar errado.
Quando erro não fujo. A decência é ficar. A maturidade é
ficar e arcar com as conseqüências. Os problemas não apagam a fé de
solucioná-los. Se não sei o que fazer, durmo - o dia seguinte retira a
ansiedade e a repetição das ideias.
Minha teimosia não é orgulho. Orgulho é imutável e jamais se
dobra, a minha persistência é superar o que já fui e admitir os tropeços como
forma de conhecer melhor onde piso.
Fonte: Facebook
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