Fabrício Carpinejar
Com a recente transformação da estrutura familiar, hoje
formada por madrastas, padrastos e meio-irmãos, e diante do rearranjo veloz de
relacionamentos ao longo da vida, ficou comum a expressão arcar com o pacote.
Quando alguém casa com mulher ou homem com filhos de outros
casamentos, logo fala aos amigos que terá que comprar o pacote inteiro.
Mesmo soando como uma manifestação de amor ("se eu não
te amasse não assumia todo o pacote"), a frase tem um quê de pesar, um tom
de incômodo. É, na verdade, uma confissão de sacrifício.
A declaração é infeliz pois sublinha o apesar, ressalta o
desconto, enfatiza a restrição. O pacote é uma inevitabilidade forçada, aponta
os malefícios do benefício.
As crianças são tratadas com uma conotação de contrariedade.
Não adianta elogiar a companhia cometendo uma crítica velada
à paternidade ou à maternidade. Não adianta homenagear o namoro e atacar os
filhos, compreendidos como um fardo e juros de antigos amores.
É necessário entender que o filho não é opcional, não se
abandona o laço, é parte irreversível do caráter do pai e da mãe.
Na hipótese do pai e da mãe desprezarem as crias em nome de
uma relação recente serão também péssimos amantes e cuidadores.
O natural é não falar nada, deixar as coisas acontecerem,
permitir que a amizade nasça da espontaneidade e se fortaleça no decorrer do
tempo.
Não há como gostar de alguém por antecipação, mas tampouco é
justo desgostar prematuramente, que a rejeição não seja herança de
condicionamentos culturais e preconceitos sumários com quem já tem um passado.
Recorrer à ideia de combo é anunciar nitidamente que está
levando algo que se quer com algo que não se quer.
A gravidez desejada não acontece uma única vez na vida com
os pais da criança, acontece sempre que se inicia uma nova família com os
filhos já crescidos.
Fonte: Facebook
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