Fabrício Carpinejar
Não há frase tranquilizante depois de uma separação. Os
amigos tentando ajudar costumam infeccionar as feridas. Desejam livrar você do
sofrimento o quanto antes e não respeitam o luto demorado e gradual. Procuram
despertar a sua vontade para sair e conhecer novas pessoas enquanto o que
anseia é desaparecer e se esconder
dentro do passado.
Não costuma funcionar dizer para o dolorido da perda recente
que "vai passar!". É subestimar a importância do pertencimento e da
entrega. "Vai passar" é desprestigiar as pontadas da saudade. O
enlutado quer lutar contra o esquecimento e você insiste em apressá-lo a mudar
de assunto.
Da mesma forma, é nada aconselhável decretar que ele ou ela
"encontrará alguém melhor". Ninguém acredita na esperança quando
acabou de assassinar a fé. O separado não aceitará a profecia, entenderá como
maldição, já que experimenta um asco de amar, um nojo de amar. Sua reação será
de absoluto descrédito, com a intenção irritada de jamais namorar de novo.
Tampouco deboche advertindo que "escapou de uma
fria". O descorneado não tem como julgar coisa alguma, voltaria na
primeira oportunidade. Está se vendo como um enterrado vivo na lápide de um
romance - fria é a sua pedra de solidão, fria é a sua cruz bordada com os nós
da garganta.
A melhor consolação é "ainda vamos rir disso tudo". No plural, avisando que
permanecerá junto no futuro, que não abandonará a amizade à míngua dos
acontecimentos. É projetar a alegria no tempo de trevas, é antecipar a cumplicidade
que surgirá com o amansamento das mágoas. O riso dói, o riso é cedo, mas
prepara a serenidade do rosto.
Graças aos amigos, a tragédia amorosa pode vir a ser a nossa
grande piada.
Fonte: Facebook
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