OUTRA DO ANALISTA DE BAGÉ
As pessoas gostam de imaginar
coisas. Como foi anunciado que a princesa Diana da Inglaterra está com uma
doença nervosa que a faz emagrecer, e como o analista de Bagé foi visto no
aeroporto do Rio de Janeiro embarcando num vôo internacional com sua garrafa
térmica, logo surgiu o boato de que os dois fatos tinham ligação. Segundo o
próprio analista, “pra boato e briga em bolicho, basta um cochicho”. A
propósito, o analista de Bagé realça a importância sociológica da garrafa
térmica, que aumentou em muito a mobilidade do gaúcho – já que chaleira e lenha
vermelha são difíceis de carregar – e é até hoje a segunda maior responsável
pela evasão de gaúchos para outros Estados, depois do governo.
Dizem que, apesar de um problema
na alfândega de Londres – os pelegos e o fumo em corda foram confiscados para
exame pelas autoridades sanitárias e o facão ficou – o analista de Bagé foi
recebido “como vipe, tchê” e levado às pressas para o palácio, já que sua
viagem fora a pedido da família Real. Qual teria sido a sua impressão de Lady
Di?
- Aquilo é potranca pra três guri
e uma guaiaca. Quando a gente pensa que ta terminando ainda tem mais. Oigalê
raça troncuda!
Mas o analista de Bagé observaria
que a boa estrutura óssea da moça salta, literalmente, aos olhos, porque da carne
não tem mais quase nada. Aliás, recorreram ao analista de Bagé quando o último
recurso, a acupuntura, foi descartado por falta do que espetar. Embora a sua
crescente reputação internacional, o analista de Bagé só é chamado no fim de
uma escalada bem definida: medicina convencional, curandeirismo, acupuntura e
ele.
De acordo com o boato, antes de
falar com a paciente, o analista de Bagé teria pedido um exame físico para
examinar a possibilidade de que a tristeza da princesa tivesse alguma causa
anatômica.
- Impossible, sir. Nenhum homem
pode examinar o corpo da princesa, muito menos um plebeu e muito menos de Bagé.
- A princesa não. O príncipe.
No fim, ainda segundo a fantasia
das pessoas, o analista de Bagé, depois de ouvir a princesa contar seus
problemas, suas angústias e inquietações, teria diagnosticado: “Frescura”. E
teria receitado uma dieta específica. Com alguma dificuldade, pois seu inglês é
da fronteira. Quer dizer, igual ao espanhol, só com o agá mais aspirado.
- Foi más duro que ferrá cavalo
de estátua, tchê. A indiana não queria entendê o que é mogango com leite gordo!
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Analista de
Bagé, Porto Alegre : L&MP Editores, 1995, p. 247)
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