quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O ANALISTA DE BAGÉ

OUTRA DO ANALISTA DE BAGÉ

As pessoas gostam de imaginar coisas. Como foi anunciado que a princesa Diana da Inglaterra está com uma doença nervosa que a faz emagrecer, e como o analista de Bagé foi visto no aeroporto do Rio de Janeiro embarcando num vôo internacional com sua garrafa térmica, logo surgiu o boato de que os dois fatos tinham ligação. Segundo o próprio analista, “pra boato e briga em bolicho, basta um cochicho”. A propósito, o analista de Bagé realça a importância sociológica da garrafa térmica, que aumentou em muito a mobilidade do gaúcho – já que chaleira e lenha vermelha são difíceis de carregar – e é até hoje a segunda maior responsável pela evasão de gaúchos para outros Estados, depois do governo.

Dizem que, apesar de um problema na alfândega de Londres – os pelegos e o fumo em corda foram confiscados para exame pelas autoridades sanitárias e o facão ficou – o analista de Bagé foi recebido “como vipe, tchê” e levado às pressas para o palácio, já que sua viagem fora a pedido da família Real. Qual teria sido a sua impressão de Lady Di?

- Aquilo é potranca pra três guri e uma guaiaca. Quando a gente pensa que ta terminando ainda tem mais. Oigalê raça troncuda!

Mas o analista de Bagé observaria que a boa estrutura óssea da moça salta, literalmente, aos olhos, porque da carne não tem mais quase nada. Aliás, recorreram ao analista de Bagé quando o último recurso, a acupuntura, foi descartado por falta do que espetar. Embora a sua crescente reputação internacional, o analista de Bagé só é chamado no fim de uma escalada bem definida: medicina convencional, curandeirismo, acupuntura e ele.

De acordo com o boato, antes de falar com a paciente, o analista de Bagé teria pedido um exame físico para examinar a possibilidade de que a tristeza da princesa tivesse alguma causa anatômica.

- Impossible, sir. Nenhum homem pode examinar o corpo da princesa, muito menos um plebeu e muito menos de Bagé.

- A princesa não. O príncipe.

No fim, ainda segundo a fantasia das pessoas, o analista de Bagé, depois de ouvir a princesa contar seus problemas, suas angústias e inquietações, teria diagnosticado: “Frescura”. E teria receitado uma dieta específica. Com alguma dificuldade, pois seu inglês é da fronteira. Quer dizer, igual ao espanhol, só com o agá mais aspirado.

- Foi más duro que ferrá cavalo de estátua, tchê. A indiana não queria entendê o que é mogango com leite gordo!  (VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Analista de Bagé, Porto Alegre : L&MP Editores, 1995, p. 247)

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