Viajante sem dicas?
A bordo do Bentley 1948, beige e marrom, com o qual costuma
viaja, às vezes, por estradas secundárias da Europa, Mr. Miles e sua
inseparável mascote Trashie está na Eslovênia, maravilhado com a beleza do Lago
Bled. A seguir, a correspondência da semana:
Eu sou um leitor recente e já me tornei fã de sua coluna.
Reparei que o senhor nunda dá dicas específicas, que tanto interessam aos
viajantes. Qual é o motivo pelo qual isso acontece.
Geraldo Bonhomme, por email
Well, my friend: obrigado por ter me incluido entre suas
leituras. Você tem toda a razão. Quem me acompanha há mais tempo — já são quase
onze anos no bravo matutino e mais alguns em outras publicações —, sabe que
sou, no máximo, um story teller, um contador de minha própria vida dedicada ao
supremo prazer de viajar e tomar posse informal do mundo que pertence a mim, a
você e a todos nós. Há várias vantagens e desvantagens em passar a vida me
movendo como um rabisco em um mapa-mundi. A falta de raízes não é uma delas.
Sou britânico, fiel seguidor de minha rainha (e, allow me, to say: amiga)
Elisabeth II. Diz-que um dia o sol sequer se punha no nosso Império, o que é
uma frase tola e senseless. O sol apenas se põe para quem não deixa de persegui-lo.
Ou põe-se com muita presteza para os que preferem os dias mais curtos do
inverno ou das altas latitudes.
O planeta, as I say, pertence a todos e as milhares de
bandeiras que sinalizam possessões distintas são, in my opinion, tão
desenecessárias quanto as que enfeitam festas juninas fora do mês de junho.
Ainda, by the way, que hajam algumas muito bonitas.
O que escrevo aqui, dear Gerry, não tem, I'm sorry to say,
qualquer ligação com o preço dos hotéis, a qualidade da comida ou o tipo de
compras que se pode fazer em determinado lugar. Vez ou outra, it's true, abro
uma excessão, quando encontro uma hospedaria bizarra, alerto contra peixes
letais em determinados pratos e, especialmente, nowadays, quando encontro um
suvenir nacional qualquer que não tenha sido produzido na China.
Como diz meu amigo Tony Wheeler, eu posso preferir (ou ter
poderio econômico) para ficar em um hotel de luxo. Mas tanto o lugar luxuoso
pode decair rapidamente quanto destinos especiais são servidos apenas por
modestas pensões — o que não significa que devem ser desqualificados.
Sometimes, a hospedaria com chão de terra batida é mais relevante do que o
resort de tapetes persas, porque apenas assim o viajante terá onde dormir.
Dicas são úteis e pontuais, mas sempre pressupõem avaliações
feitas por alguma pessoa — e as pessoas, thank God, têm gostos e necessidades
diferentes. Um lindo hotel longe da praia pode ser desastroso para alguém que
tem dores para locomover-se. And so on. Besides, my new friend, devo sempre
recordar que após ter liquidado com a polpuda herança a mim deixada por uma
longínqua contraparente, só viajo mesmo graças a dois benefícios inigualáveis:
o fato de ter me tornado sócio remido em oito abrangentes planos de milhagem e
os milhares de amigos, compadres e afilhados que fiz por esse mundo afora. Como
grande parte deles é proprietário, concièrge ou chef de algum hotel mundo
afora, eu jamais cometeria a descortesia de citá-los em desfavor de outros, com
quem me relaciono com o mesmo grau de amizade. É o que nós, britânicos,
chamamos de ética (embora, unfortunately, nem sempre a pratiquemos). Do you
know what I mean?
Fonte: Facebook
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