terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O MEDO DA MATERNIDADE

Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar

Tenho amigas que escolheram não ter filhos. Escolheram. Não queriam mesmo. Elegeram como objetivo viajar ou namorar ou se dedicar ao trabalho. Venceram o preconceito de que seriam menos mulheres sem a maternidade. São felizes dentro de sua autonomia de viver e não serão chamadas de tias solteironas. 

Não há mais a corrida pela forca da maternidade com a chegada dos 40 anos. É uma opção, não uma obrigação social, não um condicionamento ideológico. Supera-se cada vez mais o entendimento restritivo da mulher como progenitora. 

Para as mulheres que desejam um filho, a dificuldade maior não é a criança, ainda que conte sempre com a chance da produção independente. É o medo de não encontrar um pai decente para a criança. Um homem  que realmente seja fruto do amor e que siga lhe respeitando ainda que não esteja mais junto depois da relação. O medo é criar laços com alguém que não pretende nunca mais ver na frente. 

O medo é acabar o romance e não sobrar nem o amigo para dividir a responsabilidade pela educação. É terminar o encantamento e não sobreviver nem a serenidade do respeito, a ponderação do cuidado, a reverência pela fragilidade da infância. O medo é o íntimo virar estranho e o estranho virar aspereza.

O medo é ser refém de um desequilibrado ou de um indiferente, após uma paixão repentina e absolutamente ilusória. E descobrir tarde demais que não existe compatibilidade intelectual, amorosa e de princípios. 

O medo é que o filho experimente um pai ausente, um pai burocrático, um pai que não mexerá uma vírgula de sua pensão, que reduzirá a possível cumplicidade a visitas esporádicas e hostis. 

O medo é se relacionar eternamente com uma pai feito de papel, nunca de atitude, um pai biológico, que não é espiritual, um pai com uma ligação sanguínea e jamais cardíaca. 

O medo é dar uma maternidade atenta e generosa ao filho, mas passar o tempo inteiro tentando diminuir os danos de uma paternidade problemática e traumática do outro lado. 

O medo é amparar a solidão da noite do aniversário de sua criança e explicar o  inexplicável motivo daquele pai não telefonar ou não procurar em data tão importante. 

O medo é ser condenada a conviver com as ameaças de processos de guarda do filho por teimosia ou vingança.

O medo é suportar caprichos e desmandos da família paterna, buscando interferir na educação sem a contrapartida da oferta de nenhuma ajuda e apoio. 

O complicado de ser mãe é definir um bom pai. O bom pai dura a vida inteira, muito diferente de um marido que pode durar até onde a razão aguentar.

Fonte: O Globo

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