Fabrício Carpinejar
Tenho nojo de ser homem, tenho medo de ser pai. A
adolescente de 16 anos vítima de estupro de 33 homens no Rio de Janeiro não me
permite mais dormir, muito menos acordar. Fico como um zumbi sem vontade de
sair para a rua, de falar com a família, de conversar com os amigos. A vida me
roubou o respeito para sorrir. Meu sorriso morreu. Meu sorriso não tem mais
graça. Pois uma criança dentro de uma mulher não terá mais infância para
sorrir. Nem maturidade para chorar.
É a impunidade gloriosa: dopam e estupram, estupram e se
revezam, e ainda mostram o objeto do estupro como um troféu na web e ninguém é
preso imediatamente. Os agressores zombam, debocham, escarnecem sobre a
fragilidade da vítima. Culpam a vítima por ser distraída e crédula. Culpam a
vítima por ser mulher. A truculência vem sendo única razão nesta terra sem leis
e sem prisão.
Não dá para ser mulher no país. Não dá para ser decente no
país. Não dá para ter alma neste país. Ela se tornou um lixo, uma boneca com a
sexualidade esfaqueada centenas de vezes, uma presa da mais insana misoginia.
Que covardia pode ser maior que esta? Era menor, era indefesa, foi drogada, foi
encurralada, não tinha como escolher, não tinha como se defender, não tinha
como gritar, não sabia onde estava.
Por mais que tome banho, não se lava a memória. Poderia ser
a minha filha. Poderia ser minha mulher.
É um ex-namorado que leva a uma emboscada, é um bando de
animais brincando com armas, rindo de matar, rindo de ferir, rindo de abusar,
rindo de destruir alguém. A brutalidade ri dos inocentes, o machismo ri dos
direitos humanos. Enquanto a gargalhada da violência for maior que o gemido,
for maior que a nossa dor, for maior que o nosso não, for maior que o nosso
pedido de socorro, não me chamem mais de brasileiro. Deixou de ser uma nacionalidade,
é uma acusação.
Fonte: Facebook
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