A ARTE DE HOSPEDAR
Prezado mr. Miles: o que o senhor diria da atitude do
estalajadeiro de Monte Verde que ameaçou uma hóspede insatisfeita com seus
serviços? - Rogério Lima, por e-mail.
“Well, my friend: muito apreciável seu uso do termo
estalajadeiro, tão esquecido no vocabulário brasileiro. Nada agradável,
however, a atitude do proprietário da pousada que, probably, além de ter
prestado um serviço inadequado, ainda agiu como um troglodita vingativo.
Alguém já deve ter ouvido dizer que o hóspede sempre tem
razão - mesmo que não a tenha. A arte de receber não é um dom que todos
possuam. Mas quem tem um negócio cuja finalidade é receber hóspedes, ou tem o
talento ou contrata alguém que o tenha. Do you know what I mean?
Eis porque o mérito da questão não está em julgamento. Hóspedes
podem ser desagradáveis, podem ser intolerantes ou, em termos mais simples,
chatos de verdade. Há um antigo dito português que fala sobre isso: ‘Hóspedes
sempre dão alegria. Seja quando vêm, seja quando vão’. Nevermind: assim como um
bom médico atende pacientes hipocondríacos com solicitude, um anfitrião
profissional deve fazê-lo com a mesma elegância e cortesia.
Pessoalmente, com minha humilde experiência de viajante,
ouso afirmar que adoro ser bem recebido em qualquer tipo de hospedaria. O
melhor que pode ocorrer é ser tratado com familiaridade. Com cumprimentos
francos, atitude positiva e verdadeiro talento. Conheço muitos estalajadeiros,
nowadays, que chegam a aproximar-se da intimidade de seus futuros hóspedes -
consultando a internet sobre seus hábitos e preferências - para recebê-los com
mais personalismo. Não se trata, as I see, de invasão, visto que o cidadão
tornou públicos os seus gostos.
Confesso, therefore, que fico muito feliz quando o
recepcionista pergunta a mim que whisky deve trazer para Trashie (minha raposa
das estepes siberianas), quando ela me acompanha.
Sorrisos, unfortunately, não bastam. Conheço cerca de 237
tipos de sorrisos falsos como uma nota de 4 pounds. Eles costumam ser treinados
à exaustão, mas o máximo que oferecem é uma grande quantidade de dentes.
Besides, há a questão de que qualquer negócio na área de
hospedagem não pode prescindir de hóspedes. Parece comezinha, mas é
fundamental. Como me disse, certa feita, mr. Kleber Isaac, antigo proprietário
de um hotel que acolhia com carinho, na mais honesta das frases: ‘Mr. Miles,
estou seguro de que um hóspede bem tratado vale mais do que dez mil dólares em
propaganda.’ Consideração muito razoável, isn’t it?
Já my dear Claudia Fialho, por tantos anos brilhante public
relations do Copacabana Palace, brindou-me com outra afirmação brilhante. ‘A
qualidade da hospedagem é lembrada muito tempo depois que o preço já foi
esquecido.’ Uma máxima aprovada, of course, pela atual gerente geral do mítico
hotel, my dear Andrea Natal.
Sobre o estalajadeiro que ameaçou o hóspede, desconfio de
que ele terá de transformar sua pousada em um grupo de cocheiras. O que, by the
way, só vai funcionar se os cavalos forem muito bem tratados...”
Fonte: Facebook
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