sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

MR. MILES


Serviço? Que serviço?
De Nova York, onde está em visita ao amigo Michael “Buzzy” O’Keeffe, proprietário do River Café, “um restaurante onde a excelente comida só é menos atraente do que a vista que tem de Manhattan”, mr. Miles — agora com sua inseparavável Trashie, a leal raposa das estepes siberianas —, envia a correspondência da semana:

Querido mr. Miles: não sou tão experiente quanto o senhor, mas tenho reparado que a experiência de voar longas distâncias tem se tornado cada vez mais desagradável nos últimos trinta anos. Até onde o senhor acha que isso vai chegar?
Ruth Assumpção Clarke, por email

You’re absolutely right, my dear. Houve um tempo em que as companhias aéreas disputavam a preferência de seus passageiros pela qualidade de seus serviços. Isso ainda ocorre, of course, mas em raras empresas e visando corporate clients, que viajam nas escassas e dispendiosas poltronas da parte frontal da aeronave.

I don’t know if you remember, mas o Super-G Constellation, da Varig em que voei algumas vezes no final dos anos 50, tinha, a bordo, garçons e receitas da boate Vogue, do Rio, o mais requintado endereço gastronômico da cidade à época. A passagem era mais cara, indeed, mas o avião transportava apenas 63 passageiros.

Como é possível que hoje, com disponibilidade cinco vezes maior, não se encontre uma solução de serviços competentes para os viajantes, sobretudo aqueles condenados a viajar na classe econômica?

Veja o exemplo de grande parte das empresas aéreas norte-americanas, my dear. Elas eram um paradigma de excelência no passado. Hoje, todas as que não estão falindo, estão saindo da falência.

Recentemente voei em um uma companhia que — se não me engano — tem o nome de uma letra grega.

In fact, lembrou-me uma tragédia grega. Believe me, Ruth: era uma travessia intercontinental e qualquer drink — exceto um único acompanhando o que eles chamam de jantar — foi cobrado à parte. À parte e na hora, of course — para que os passageiros não tivessem a chance de fugir em pleno vôo.

Veja a situação: se a sua carteira estiver no compartimento de bagagens, o vizinho deverá segurar a sua bandeja para que você receba sua segunda taça de vinho. It’s a very interesting movement, já que não há espaço para um cidadão e duas bandejas no exíguo espaço entre as poltronas.

Por sorte, meu vizinho era um faquir de Nagpur, de modo que eu pude adquirir o scotch excedente.

Ah: poder-se-ia supor que a idéia da empresa é controlar o teor alcoólico a bordo. Nada disso: os comissários ficam delighted em oferecer quantas doses o viajante quiser, já que a empresa se recusa a emitir um recibo referente a essas transações. Donde deprendi que vender bebidas sem qualquer registro fiscal é uma notável estratégia para salvar a empresa da bankruptcy. Don’t you agree?

Mas você me pergunta até onde isso pode chegar? Not to far, I presume. Esses executivos têm cortado tudo o que podem, mas, fortunately, ainda não inventaram uma maneira de minimizar os fêmures de seus passageiros. Se pudessem fazê-lo, my dear, não tenho dúvida de que em breve teríamos aviões exclusivamente para poltronas.

Fonte: Facebook

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