O juiz Ruy Armando Gessinger - desembargador aposentado e reingressado na Advocacia (OAB-RS nº 5.275) - sempre mantinha as portas do seu operoso gabinete abertas e não tinha receio de receber os advogados.
Certo dia, em comarca do Interior, o oficial de justiça anunciou ao magistrado que um professor catedrático, doutor emérito, famoso por seus trabalhos acadêmicos, estava distribuindo uma petição inicial e queria apresentar seus cumprimentos.
Gessinger tinha sido seu aluno e ignorava que o jurista efetivamente advogasse. Mas, claro, recebeu o visitante com alegria.
- E daí, colendo mestre! Que bom revê-lo! O que o traz aqui? - disse o juiz.
O visitante mostrou uma petição inicial que trazia, num negrito bem ornado, o nome de seu escritório.
O magistrado fez uma leitura dinâmica, passou por alto das citações doutrinárias e jurisprudenciais, e procurou ver se estavam todos os requisitos da inicial. Mas, faltavam o valor da causa e o pedido de citação dos réus.
- Professor, acho que no seu escritório a datilógrafa esqueceu desses dois detalhes. Mas o senhor não precisará voltar a Porto Alegre. Empresto-lhe minha máquina de escrever e o senhor só refaz a última folha. Sente aqui!
O juiz saiu da sala e quando voltou, 15 minutos depois, o jurista continuava imóvel ante a máquina.
- Professor, espere aí que eu faço pro senhor.
O magistrado sentou-se, refez a última folha, colocou o valor da causa e requereu a citação dos réus.
- Assine aqui, professor - arrematou o juiz.
Até hoje, não se sabe se o jurista não sabia datilografar ou se esquecera das formalidades do CPC, o que de maneira alguma tisna a admiração por sua sabedoria. Mas Gessinger está convicto de que "ser catedrático é uma coisa, ser advogado é outra - embora, claro, as duas condições possam coexistir".
Questionando-se se terá agido errado ao ajudar o professor emérito, Gessinger já antecipa:
- Caso sim, qualquer deslize meu já tem sua pena prescrita.
Fonte: www.espacovital.com.br
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