sexta-feira, 12 de novembro de 2021

MR. MILES



Os corais do Taiti
Querido Mr. Miles: vou em lua-de-mel para o Taiti e sei que as ilhas daquele arquipélago são cercadas de corais. Que tipo de calçado o senhor me recomenda? Já imaginou que mico passar a lua de mel com os pés feridos?
Ana Julia Lourençato, por email

Well, my dear, posso entender sua preocupação, porque pés lacerados são sempre um estorvo para quem viaja. Se bem que, to be honest, em situações como a de uma amorosa honeymoon, o problema me parece bastante menos grave. Don’t you agree?

Se você é leitora de minha coluna, sabe que, anos atrás, eu fui atacado por entidades defensoras da natureza porque vi-me obrigado a atacar, a remadas, uma grande formação de corais que imobilizou a piroga em que me encontrava. Shame on me! 

Confessei o erro e publiquei diversos alertas para que outros canoistas não se vissem na mesma vexatória situação, mas ainda hoje há quem me considere um reef murderer. Eis porque, honey, até hoje evito me aproximar dessas delicadas formações.

Na Polinésia, onde você e seu companheiro vão… well, vão receber as bençãos de Tangaroa, o deus dos oceanos, os corais são abundantes e formosos. A transparência das águas, however, permite um fácil avistamento das maiores formações. Os que machucam pés delicados como os das noivas são os corais esparsos e aqueles que se escondem, traiçoeiros, sob a paz das areias.

Para evitar acidentes que maculem tanto a você quanto aos atóis, existem calçados especiais. São bluchers, botas de cano curto, de neoprene, com solado de borracha macio, que é possível encontrar em algumas lojas de mergulho. 

Eu os conheci há poucos anos, até porque antes as alternativas eram estranhas e pouco eficientes. 

O que me leva, otherwise, a lembrar de meu bom amigo, o latifundiário chileno Don Jaime Acuña, um entusiasta da Polinésia. Certa vez eu o encontrei no Bloody Mary Bar, em Bora Bora e, como sempre, ele usava roupas de cores discrepantes, de vez que é daltônico. “Miles! — disse-me ele, em seu inconfundível espanglês — Comprei um calçado especial para andar sobre os corais. Você precisa vê-los.” Don Jaime, de traços araucanos, é um típico ‘macho latino’, desses que abre garrafas de cerveja com os dentes. 

Na manhã seguinte, encontramo-nos no pier do Bora Bora Lagoon Resort. Orgulhoso, ele me esticou suas garras de índio andino e, my God, ví uma das cenas mais hilariantes de minha existência. O calçado especial anti-corais que ele envergava era uma ‘melissinha’. Que ele julgava ser branca. Mas era cor de rosa, of course. Um desastre ecológico: os recifes da Polinésia estavam todos morrendo. De tanto rir.

Fonte: Facebook

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