Charge de Gerson Kauer |
Maus "antece-DENTES"
A audiência no Juizado Especial Cível, em Porto Alegre, é de
instrução de uma ação de indenização danos morais e materiais. O autor
teria sofrido agressões durante uma briga em um boteco localizado numa
zona de traficantes, prostitutas etc.
Tudo começara quando um dos habituês da casa se insinuara para a
mulher de outro. Em instantes dois grupos se formaram e sete homens
disputaram a honra a socos e arremessos de cadeiras.
O autor da ação cível - engolido pela confusão - fraturara o nariz e
tivera a avulsão traumática de dois dentes. Além da reparação por dano
moral, requeria o ressarcimento dos gastos que teve com a aquisição de
uma dentadura e dois pivôs.
O réu, que também saíra ferido,
admite para a juíza ter dado alguns golpes no autor, mas sustenta não
ter sido o responsável pelos socos que deixaram o desafeto desdentado.
- Eu tenho certeza de que não bati na cara, isso eu não fiz não – afirma.
- Mas foi uma briga de muitos, e é difícil que o senhor se lembre a quantos agrediu e de que forma – observa a magistrada.
- Bati, mas não quebrei os dentes dele não, doutora! – responde o réu.
A juíza insiste em conciliar:
- O senhor paga ao menos parte dos gastos com o dentista e o resto a gente conversa depois
– insiste a condutora da audiência, sensibilizada com a situação do
autor, que, falando com dificuldade, exibe gengivas incontroversamente
nuas.
- Ajudo com um ou dois dentes, mas chapa nova eu não vou pagar. E também não dou um centavo a mais - retruca o réu.
Malgrados os esforços, não há conciliação. Enquanto as partes e
procuradores assinam a ata, a juíza leiga, frustrada na tentativa de
devolver um sorriso ao autor, provoca o réu, na intenção de
constrangê-lo:
- Temos todo o tempo que for preciso, pense bem. O senhor
confessou ter agredido o autor, e não há certeza de que não contribuiu
para os danos estéticos. Afinal, se o senhor anda lá pela Farrapos,
frequentando inferninhos na noite, boa coisa o senhor não deve ser.
Ao que o réu, com um traquejo todo particular, retruca, encerrando a discussão:
- E nem ele é boa gente, doutora! A senhora ainda não se deu conta de que estávamos no mesmo bar?...
Fonte: www.espacovital.com.br
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