A angústia diante da mala vazia
Em 15 dias embarcarei para a minha primeira viagem para a Europa, serão
2 meses entre Inglaterra, Suíça e Alemanha. Apesar do planejamento
dessa viagem já ter feito até aniversário, estou aterrorizada pela hora H
de arrumar a mala. Acredito que não exista uma fórmula mágica para
isso, daí o motivo de recorrer ao sr. que está sempre de malas prontas. O
que não pode faltar na mala? O que é desnecessário??
Eneida Stefanoni, por email
Well, my dear: eis um tema no qual minha experiência é, probably, pouco
exemplar. Como você deve ter percebido, meus trajes são quase
invariáveis e, há décadas, conservo meu look britânico.
Therefore,
carrego comigo — conforme a duração da viagem —, uma ou duas mudas de
roupa, em tecido mais leve ou pesado, de acordo com o destino. Vão
comigo, as well, quatro camisas que mando lavar (e engomar) ao fim de um
dia de uso, underwear (que lavo sozinho) e, of course, um bom livro e
um dicionário, com o qual me atualizo e pratico línguas remotas.
Quando a
viagem envolve aventura ou praia, tenho um kit sobressalente para cada
situação, com equipamentos específicos como binóculos, botas e shorts.
Para lugares frios, levo um sweater de lã de carneiro confeccionado por
minha tia Josephine, na Escócia e uma capa da Burberry de Londres.
Há diversos consultores de moda que podem ajudá-la melhor nessa questão.
However, minha vivência revela que, desde que os baús foram abolidos,
não há com o que se preocupar. Turistas, por definição, são sempre
pessoas mal vestidas e amarfanhadas que, por falta de tempo ou
alternativa, acabam criando exóticas combinações com o que lhes resta de
roupa limpa para circular pelo mundo. Never mind: os locais já estão
acostumados.
A alternativa para esta situação é ter muito dinheiro e
partir mundo afora com o seu armário completo dividido em malas. Para
isso, além de pagar uma fortuna de sobrepeso nos aviões, você terá de
contratar um séquito de carregadores, como os que eu já tive, a long
time ago, durante minhas jornadas pela India e pela Birmânia na
companhia de Rudyard (N.da R.: Rudyard Kipling, escritor e poeta
britânico nascido em Bombaim).
Nevertheless, compreendo e me declaro
compadecido de sua aflição pessoal. O viajante diante de uma mala vazia
sofre, de certa forma, a mesma angústia do escritor diante de um papel
em branco.
Tenho um amigo, o bravo e meticuloso dr. Nelson
Donnerstag que, antes de qualquer jornada, reserva diversos dias para a
tarefa de preparar sua bagagem. Suas malas ficam abertas e vão sendo
lentamente preenchidas após profunda análise e discussões com seus
amigos e parentes. O chamado método Donnerstag alcança cerca de 60% de
sucesso, mas vem sendo aperfeiçoado.
Mais original é a solução
encontrada pelo excêntrico e admirável Andor Sterntall, que mora na
América do Sul e tem familiares em diversas partes do mundo. Ele carrega
uma mala repleta de presentes que distribui em suas escalas e, o que
não ganha em retribuição, adquire com prazer para distribuir quando
volta.
Sei que nenhum desses é o seu caso, dear Eneida, mas
consola-me o fato de que, a esta altura — levei um bom tempo, I’m
afraid, para ler sua correspondência —, o seu problema já estará
resolvido… para o bem ou para o mal. A própria viagem se encarregará de
colocá-lo de volta às suas reais (e diminutas) proporções.
Fonte: Facebook
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