O QUE LER NUMA VIAGEM
Caro mr. Miles: tendo em vista que o
senhor já esteve em centenas de países, gostaria de pedir algumas
indicações. Não: desta vez não são destinos turísticos, mas livros.
Queria saber quais são os seus livros de cabeceira?
Rafael Codonho, Porto Alegre, RS
Well, my friend: um viajante sem livros é como um capitão sem bússola
ou sextante. Ele pode até chegar a algum lugar, mas só então perceberá o
quanto está perdido. Há vários tipos de livro que inspiram viagens. Os
mais objetivos, of course, são relatos de viagem ou vivências pessoais,
muitos dos quais, I must say, são extraordinariamente ruins.
Por razões
éticas (e de espaço), não vou mencionar os nomes de seus autores, but,
unfortunately, é cada vez mais comum encontrar livros que cumprem a
função oposta a que se destinam. Ou seja: por absoluta falta de
habilidade de seus autores, afugentam os leitores do destino em questão.
Procure, antes de escolher um livro, informar-se sobre o autor ou ler
resenhas independentes. Obras produzidas por desocupados que passaram
meses “mochilando” costumam dizer muito mais sobre os infortúnios do
autor do que sobre a essência dos destinos.
Frequentement, my
friend, encontro inspiração em romances que não têm a pretensão de
promover o cenário em que se desenrolam. Nevertheless, fazem-no de forma
esplêndida, ao relatar como pensam e reagem seus personagens; o que
comem, que flores colhem, que sentimentos cultivam. Don’t you agree that
Dostoievski fez mais pela Rússia e Kazantzakis mais pela Grécia do que
mil livros de viagem?
Well, é assim que penso, Rafael. Não tenho um
livro de cabeceira, mas um livro para cada cabeceira. Hoje, porque estou
em San Casciano di Val di Pesa, na Toscana, o livro que você encontrará
ao lado de minha garrafa de chianti é Vanilla Beans and Brodo – Real
Life in The Hills of Tuscany , um relato da australiana Isabella Dusi,
que passou um ano vivendo aqui perto em Montalcino.
A narrativa me
desperta boas sensações, entre as quais um incontrolável apetite. Devo
admitir que livros que abrem o apetite são, no mínimo, bem feitos.
Unless, of course, que, aqui na Itália, me dessem a a maior vontade de
comer bockwurst com sauerkraut. Nesse caso, alguma coisa estaria errada,
isn’t it?
Fonte: Facebook
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