O padrão Fifa na sala de audiências
Sala de audiências em cidade de médio porte. O advogado bastante conhecido - e com muitos anos de militância - ingressa no recinto e se detem ao lado da mesa do juiz, sobre a qual se encontram os autos dos processos que estão na pauta do dia.
As feições do profissional da Advocacia exibem a intenção de examinar
o processo em que ele atuava. Mas o julgador, empossado havia um mês,
mesmo percebendo que o advogado quer pegar os volumes, prossegue falando
com os procuradores e partes que se encontram à mesa, ignorando o
visitante recém chegado.
O advogado, então, se espicha e pega os
autos sem interromper a audiência em andamento. Mas imediatamente ouve a
advertência do magistrado, recriminando-o por sua ação:
- Doutor, o senhor não pode fazer isto.
- Como não? É minha prerrogativa profissional examinar os autos
antes da audiência, e o senhor sequer me olhou, impedindo-me de pedir
licença.
Ao que o magistrado retruca:
- Mas aqui o meu padrão é outro...
- Padrão, doutor? Padrão de que eu ouvi falar - e mal, por sinal -
é o tal de padrão Fifa. O senhor assumiu recentemente e já possui
padrão? Padrão, a gente adota em casa, com a mulher, os filhos, os
empregados... - dispara, ferino, o advogado.
Um silêncio ruidoso domina a sala, até que o advogado verbaliza, encerrando o incidente com sutil ironia:
- Aqui, se o senhor aplicar a Loman, o Estatuto da Ordem, o CPC e a CLT, já estará de bom tamanho...
E logo complementa:
- São esses os diplomas que dispõem sobre as normas processuais padrão, aplicáveis nas audiências.
Com a face rubra, o novel juiz fica silente por alguns segundos. E só
lhe resta prosseguir com a audiência que fora interrompida com a troca
de farpas.
Nos corredores do foro, depois, na mesma tarde, só se falava na juizite desfeita.
Fonte: www.espacovital.com.br
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