Charge de Gerson Kauer |
ESTRANHAS ENTRANHAS
Por Eudes Quintino de Oliveira Júnior, promotor de justiça aposentado (SP), advogado e reitor da Unorp.
eudesojr@hotmail.com
De forma sorrateira, o homem acampou nos arredores da cidade pequena
onde se concentram os moradores mais simples e crédulos e que
praticamente trabalham durante todo o dia.
Chamou a atenção da população porque residia em uma barraca erguida
ao lado de seu velho carro e muitos pensavam que se tratava de um
cigano, apelido pelo qual foi conhecido posteriormente.
Em sua tenda colocou um cartaz que o identificava como um orientador
ou guia espiritual ou até mesmo benzedor e que realizava procedimentos
de cura de qualquer tipo de doença.
A fama se espalhou rapidamente e os primeiros clientes começaram
aparecer. Dentre eles, Joana, mulher casada, de alma rurícola,
desprovida de qualquer malícia.
Relatou que sofria de um forte dor “em suas entranhas” e que havia passado por todos os médicos da cidade, sem qualquer resultado satisfatório.
O benzedor, após a entrevista, disse a ela que havia detectado a
origem de sua doença e marcou retorno para sexta-feira próxima, logo
após o por do sol, quando daria início a um rito de desapossamento do
mal que a afligia. Porém, deveria comparecer desacompanhada.
Assim foi. Joana, sem nada dizer ao marido, se fez presente e foi
encaminhada para o interior da tenda. O curandeiro ou benzedor ou mago,
seja lá o que for, caminhando e recitando suas preces, determinou que
ficasse nua e deitada sobre uma mesa, com a barriga para baixo para que
ele pudesse introduzir a substância que preparou para sua cura.
Orando em voz alta, pediu a ela concentração e que repetisse suas
palavras, num cantochão monólogo e monótono. Ora agarrava-a pelos ombros
ora puxava-a pelos longos cabelos, seguido sempre de repetidos
movimentos de vai e vem, num intenso crescendo em busca de um ´grand finale´ que, ao ser atingido, deixou ecoando a última nota do desconcertado canto.
Joana, assustada com aquele entusiasmo exagerado, percebeu que fora
enganada e tinha sido usada sexualmente. De lá compareceu e relatou o
fato à delegada de polícia, que teve ainda tempo hábil para recolher
amostras do esperma do curandeiro.
Ele foi preso em flagrante delito, depois colocado em liberdade e
processado por posse sexual mediante fraude. Sentiu que nenhuma bênção
iria socorrê-lo. Foi quando desarmou a barraca e se mandou.
Joana, por sua vez, nunca mais reclamou de suas dores nas entranhas. Os médicos, incrédulos, acharam muita estranha a cura.
Fonte: www.espacovital.com.br
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