terça-feira, 4 de janeiro de 2022

ROMANCE FORENSE

A morte do computador EV.jpg
Charge de Gerson Kauer
O ASSASSINATO DO COMPUTADOR

O advogado septuagenário, inconformado com a demora em um inquérito policial que acompanhava em nome de clientes, deu seis tiros no computador de uma delegacia de pequena cidade do Estado do Pará. O profissional foi preso em flagrante, por danos ao patrimônio público e por colocar em risco a vida de terceiros.

O delegado escutou a alaúza e firmemente questionou o advogado:"tá louco, doutor?"

- Matei o computador porque ele não estava me respeitando. Não tive outra saída. Com sua inércia e a omissão, essa ´josca´ estava trabalhando para os bandidos - explicou-se o advogado que, mesmo assim, foi preso.

Recolhido ao quartel da Polícia Militar na capital (Belém), o advogado recuperou a liberdade dois dias depois, graças a uma liminar. Formado o inquérito, depois em Juízo, foi ouvida uma testemunha presencial.

- O doutor chegou na delegacia e insistiu para que fosse apressado um inquérito que apura a invasão de um condomínio de evangélicos. Respondi que não poderia agilizar, porque nosso único computador estava estragado e o conserto ainda não fora autorizado pela Secretaria da Segurança - contou o escrivão de polícia.

O policial prosseguiu:

- Depois de alguns palavrões contra Bill Gates, o advogado atirou várias vezes no monitor e reservou a sexta e última bala justamente para o computador, que estava em cima da minha mesa - complementou o agente.

Em transação penal, o advogado concordou em pagar cestas básicas e em ressarcir o Estado, a quem entregou um computador e um monitor de primeira geração - espécimes do que tinha de melhor qualidade na única loja de equipamentos de informática da cidade. Foi designada audiência para a formalização dos atos.

Após as formalidades, o juiz consolou o causídico:

- As cestas básicas vão aplacar necessidades de pessoas humildes. E o novo computador vai permitir que suas solicitações sejam atendidas com mais presteza na delegacia - comentou o magistrado.

O advogado firmou a ata da audiência, engoliu em seco, deu boa tarde, retirou-se etc. E nunca mais foi visto na comarca.

Fonte: www.espacovital.com.br

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