terça-feira, 23 de novembro de 2021

ROMANCE FORENSE

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Charge de Gerson Kauer

Porco em gaiola pode ser considerado ave? 

Por Leo Iolovitch, advogado (OAB-RS nº 6.667) - Leo@Ebia.com.br

A crise na suinocultura em 2012 fez com que lideranças do setor viajassem a Porto Alegre, para fazer pedidos aos deputados. Em dois ônibus vieram produtores, e, para obter espaço na mídia, eles também trouxeram alguns leitões, para chamar a atenção. O truque funcionou e houve ampla cobertura da imprensa.

Em meio aos flashes, um leitão assustou-se e disparou em direção à Catedral Metropolitana.

Arnildo, o rapaz que o trazia, saiu correndo para recuperá-lo. O bichinho desceu a rua Espírito Santo e ganhou velocidade. Só nas proximidades do Centro Administrativo o suíno voltou às mãos de seu dono. Este, já ofegante, resolveu passar uma corda no pescoço do bicho, para que não fugisse mais.

Entrementes, na Praça da Matriz a manifestação terminara e os ônibus voltaram para o interior. Ninguém percebeu a ausência do Arnildo, pois os que estavam num ônibus supunham que ele estivesse no outro. Assim, sem conhecer a cidade, Arnildo e seu leitão, estavam ao final da tarde andando pela Cidade Baixa.

Arnildo estava deslumbrado com a quantidade de bares. As pessoas saiam das mesas e iam olhá-los.

Até que Arnildo encontrou um grupo estranho, com piercings e tatuagens, que o saudou. Esses tipos alternativos acharam genial a ideia de alguém usar um porco como animal de estimação.

E, assim, de uma hora para outra, o ingênuo Arnildo, saído do interior de Teutônia, se transformou na celebridade de um grupo punk.

O diálogo foi um pouco prejudicado, pois ele não entendia nem metade do que falavam. Mas sentiu-se bem, ao ser acolhido pelos exóticos, que achavam normal o que os outros estranhavam.

Uma magrinha pálida, de cabelo roxo, simpatizou com Arnildo. Convidou-o para conhecer a região. O insólito casal, com o mais insólito animal de estimação, fez sucesso pelas ruas e bares da Cidade Baixa. Comeram xis e beberam cerveja. Ao final da noite, como Arnildo e o porquinho não tinham onde ficar, a magrinha decidiu levá-los para sua casa.

O porteiro do edifício proibiu a entrada. Ela insistiu e ameaçou fazer escândalo. Apareceu o síndico - que era delegado de polícia - e disse que a convenção de condomínio só admitia no prédio cães, gatos e passarinhos, que ele, pedantemente, chamava de "aves canoras".

Barrados - ela, ele e o porquinho foram embora. Uma hora mais tarde voltaram e entraram pela garagem. Tinham acomodado o leitão numa dessas caixas plásticas usadas para transporte de animais em carros. Deixaram a tal de gaiola na área de serviço do apartamento e foram deitar. Assim, ao fim de um dia inesquecível, o jovem suinocultor e a garota punk uniram seus sonhos.

Na manhã seguinte, quando Arnildo se preparava para tomar o caminho de volta a Teutônia, deu de cara, de novo, no térreo, com o síndico. Nova discussão - que logo acabou com a perspicaz observação de um advogado, também morador do prédio e juiz conciliador do JEC Cível:

- A convenção do condomínio não diz que, em condições especiais, porco não possa ser considerado ave!...

Fonte: www.espacovital.com.br

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