Charge: Gerson Kauer |
O Júpiter
(Eudes Quintino de Oliveira Júnior, advogado e reitor da Unorp - Universidade de Rio Preto (SP)).
No fundo da sala, assustado e acabrunhado, com as mãos entre as
pernas, deixando transparecer sua fragilidade física, Carlinhos - até
diminutivo no nome ganhou - participava da audiência de instrução e
julgamento onde figurava como um dos primeiros réus da Lei Maria da
Penha, que tinha acabado se sair do forno e batia de forma impiedosa sua
bigorna contra os homens violentos e agressores de mulheres.
A vítima, sua ex- esposa, foi chamada e entrou como que triunfante e
esbanjando sua forma física, não pela beleza de seus traços, que jamais
habitou aquele verdadeiro latifúndio, mas sim por esbanjar excesso de
reserva adiposa. Verdadeiro peso pesado do MMA.
Ela tomou seu lugar e foi minuciosamente medida de cima até embaixo
pelo promotor e juiz. O primeiro pensou rapidamente que as folhas de um
inquérito policial são enganosas e não representam a verdade, pelo menos
com relação à descrição das pessoas. O juiz, franzino como Carlinhos,
imaginou-se diante de um entrevero com aquela mulher e recordou
rapidamente o conceito do princípio da igualdade de armas. Concluiu que
não teria a mínima chance no embate. Assim, usando o critério do bom
senso, jogaria a toalha.
A voz da mulher era forte, grossa e imperativa. Justificou que seu
ex-marido mal chegou à casa e já foi exigindo o jantar à mesa. Como não
tinha costume e autoridade para tanto, ralhou com ele.
Foi o suficiente para que o então companheiro, fazendo uso de um cabo
de rodinho, desferisse-lhe um contundente golpe na cabeça que a
atordoou por um instante e fez crescer o inevitável “galo”, a quem ele zombeteiramente apelidou de Júpiter.
No seu interrogatório, ainda tímido, com voz pequena e delicada, ele
esclareceu que jamais agrediu sua ex-mulher e nem condições físicas para
tanto reunia e sim que por ela era constantemente agredido. Não
denunciava as agressões pelas constantes ameaças que recebia. No dia dos
fatos, logo que chegou a casa foi mais uma vez ameaçado perseguido por
ela só pelo fato não ter comprado macarrão.
Com a intenção de dar um basta e retomar a têmpera de macho,
defendeu-se utilizando o rodinho, cujo cabo veio a se quebrar com o
golpe. Somente assim conseguiu afastar a fera indomada e dela se separar
definitivamente.
O promotor, visando apurar corretamente o fato, perguntou ao réu o porquê de ter apelidado o “galo”
de Júpiter. Sem muito pestanejar, já emendando na pergunta, respondeu
que a ex-esposa tinha um galo que não deixava as galinhas em paz,
atacando até mesmo o galinheiro vizinho. Para ela representava o símbolo
da força e vigor sexual. Daí que, pelo menos enquanto durasse o “galo”, não iria se esquecer dele.
E foi absolvido. Legítima defesa própria.
Fonte: www.espacovital.com.br
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