A geopolítica emocional do grande viajante
Nosso intrépido viajante fez uma viagem relâmpago até Bergen, na
Noruega, com o objetivo de comemorar os 50 anos de casamento de Lars de
Dragun e Borhilde Nöstrom, velhos amigos do tempo em que mr. Miles
praticava esqui nórdico.
A seguir, a pergunta da semana:
Mr. Miles: sou checo e vim para o Brasil fugindo de uma
Europa convulsionada, sempre em brigas por poder e fronteiras. Quando
tudo parecia melhor, a Europa está empobrecida, a Rússia come pedaços de
Ucrânia, a Escócia quer se separar de sua Inglaterra. O que o senhor
acha disso tudo? (Pavel Novak, por e-mail)
“Well, my friend: antes de responder à sua pergunta, quero
deixar claro que não sou um especialista em geopolítica e tudo o que
posso lhe dizer vem da experiência e dos conhecimentos que adquiri como
viajante.
Meus leitores tradicionais sabem que sou um universalista:
acredito, indeed, que todos os lugares da Terra pertencem aos que nela habitam e são, therefore, uma extensão de seus próprios jardins. Acredito, as well,
que as diferenças entre os povos são admiráveis e que só temos a
aprender com elas, investigando seus motivo, sua História, seus talentos
e fraquezas.
Unfortunately, dear Pavel, nem todos pensam como eu.
Governantes de inúmeros países do mundo fazem exatamente o contrário do
que proponho. Erguem muros invisíveis em suas fronteiras. Discriminam
seus estrangeiros e, last but not least, usam seu poderio
militar ou demográfico para subjugar áreas que lhes interessam,
sobretudo do ponto de vista econômico. Sempre, by the way,
haverá pretextos para essa perfídia e, sempre, também, as populações
dessas nações ocupadas por um ou por outro iludir-se-ão com a
perspectiva de que a vida vai melhorar. E, oh, My God, vão terminar por sofrer.
Não tivesse eu tão provecta idade e tão longa vida de espectador do
comportamento humano, até poderia imaginar que os recentes caminhos da
globalização, da comunicação instantânea e da popularização das viagens
seriam – todos eles – sinais de aproximação afetuosa entre os povos.
Imagine, Pavel, se isso realmente fosse possível, que amplitude de
ideias, tecnologias, culturas poderíamos compartilhar? E, no entanto, o
que vejo nessas redes sociais (raramente, I must say, porque
ainda prefiro a comunicação epistolar) são pessoas compartilhando
convicções! Como me apavoraram os convictos! Eles já sabem tudo, sem
conhecer absolutamente nada. Eles têm fés, posições políticas,
enquadramentos morais, sexuais, culturais. Eles sabem o que é bom e o
que é ruim sem ao menos conhecer uma bilionésima parte do que pode ser
bom ou pode ser ruim. Falta-lhes humildade. Mais vale ouvir e olhar do
que falar e tentar convencer.
Forgive me por tantas digressões, dear Pavel. However, eu acho que é por essas razões que as histórias se repetem. Porque somos soberbos! E por isso mesmo seguimos errando.
Sobre a Escócia, que é, of course, um assunto ao qual sou muito ligado, é evidente que considero anacrônico esse sentimento separatista. Anyway, não faz muita diferença. Eles querem continuar com o nosso dinheiro e, mais que tudo, insistem em ter nossa querida Queen Elizabeth II como sua própria rainha também. Por mim, que façam o que julguem melhor – desde que não deixem de produzir o meu scotch de cada dia. De minha parte, seguirei não usando as suas saias kilt, não acreditando em Nessie (N. da R.: o discutido monstro do Lago Ness) e – o mais importante – não pronunciando as palavras como se estivesse com uma batata quente na boca. Don’t you agree?”
Fonte: O Estadão
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