Charge de Gerson Kauer |
O sonho de um juiz
Por Leo Iolovitch (advogado, OAB-RS nº 6.667)
Só quem já jogou futebol sabe o que é o desejo de fazer um gol especial.
Sonhar com aquela bola que cai na frente do atacante, um metro além
da pequena área, que se bate forte com o peito do pé, estufando as
redes. É a glória. A realização.
Porém esse é um lance único, uma situação sonhada, que raríssimas vezes acontece na vida de um jogador.
Com o tempo, parei de jogar futebol, sem nunca ter conseguido uma
bola dessas, para fazer o gol ideal. Mas, como ainda corria bem e
conhecia os fundamentos, acabei aceitando o convite e fiz curso de
arbitragem.
Comecei apitando jogos de amadores e quarta divisão, alguns até pelo
interior. Era um ganho modesto, mas com alguma perspectiva de futuro.
Como gosto de futebol, era uma forma diferente de seguir ligado nele.
Com o tempo fui subindo na avaliação e passei a dirigir jogos mais
importantes. Porém já não acreditava na possibilidade de ganhar mais e
não via futuro na carreira.
Então fui escalado para um jogo da primeira divisão. Domingo de sol,
estádio lotado, e eu lá dentro do campo. Estava ainda no primeiro tempo,
quando corri para a área acompanhando uma jogada que vinha da lateral; o
ala cruzou, o zagueiro tentou afastar, pegou na canela e subiu.
Caiu bem na minha frente, redonda, risonha, fresquinha e contente. Eu
estava diante da goleira. Era a bola que eu sonhara durante toda minha
vida. Agora eu era o árbitro, mas a bola era aquela.
Veio um turbilhão na minha cabeça. Não lembro o tempo que durou,
fiquei meio ausente e surdo, não ouvia nada, era como se fosse um sonho.
Enquadrei o corpo e chutei com toda a força com o peito do pé. Ela
entrou perto do ângulo e a rede afundou, acolhendo a bola como se ali
fosse o seu lugar verdadeiro e definitivo.
Continuava sem escutar nada ao meu redor, não olhei para ninguém,
apitei, corri para o meio do campo, indiquei o centro, validando o gol, e
perdi os sentidos.
Fonte: www.espacovital.com.br
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