sexta-feira, 6 de novembro de 2020

MR. MILES



UM DIA A IDADE CHEGA

Dear Miles (permita-me a familiaridade por também estar numa idade provecta), estava há tempos para te escrever, porém só criei coragem quando li seu último artigo sobre as andanças no Canadá de snowmobile.

Vejo que o amigo procura viver intensamente e por isso animei-me a pedir-lhe sugestões porque me identifico com quem apesar da idade tem o espírito jovem.

Pelo meu lado, aos 73 anos, saltei de paraquedas, aos 74 participei do Rally de Monte Carlo para Carros Históricos (nos Alpes Franceses em pleno Inverno), aos 75 mergulhei na Grande Barreira de Coral na Austrália, mas, desde então (estou chegando aos 78 anos) não tive mais inspirações sobre o que fazer para sentir novas emoções. E então, o que V. me sugere? 

 Tenho certeza no entanto, que você, como eu, só entra nessas aventuras com toda a segurança — afinal a idade cobra seu tributo e ainda temos muito para apreciar e por isso, não fazemos loucuras. Fico no aguardo de seus experientes conselhos.
João Eduardo Motta (nick name: Jeam), por email


Dear Jeam: fiquei muito agradecido por sua correspondência, embora discorde daquilo que você chama de provecta idade. Pelo que pude compreender, o prezado leitor ainda está vivendo o esplendor de sua segunda juventude e o que o torna ainda mais jovial é esse entusiasmado interesse em buscar novas aventuras e viver emoções ainda desconhecidas. 


O tempo, you’re right, cobra seu tributo. Lembro-me, vagamente, de que quando eu tinha a sua idade, já não me era possível remar com a mesma força de meu grande amigo Sir Steve Redgrave, cinco vezes campeão olímpico no remo olímpico, que, até hoje é considerado o maior atleta de nossas ilhas britânicas. Tampouco me encantei com o bungy jumping. Depois de apenas alguns saltos na Kawarau Bridge, em Queenstown, na Nova Zelândia, passei quase uma semana com uma leve lombalgia. 

O mundo, however, ainda oferece um sem número de aventuras adequadas a esta fase de sua vida, dear Jeam. Vou apresentar-lhe algumas sugestões com o intuito de inspirá-lo. Paragliding, for instance. Você não deve praticá-lo sozinho, como eu faço, porque, fortunately, já adquiri prática suficiente. Experimente, contudo, voar na companhia de um instrutor. Minha primeira experiência ocorreu nas proximidades de Annecy, numa porção dos Alpes que fica na Alta Savóia. Oh, my God! O silêncio absoluto dos céus, a sensação de voar, subindo e descendo ao sabor das correntes de ar, a paisagem que vira como um caleidoscópio à medida em que o instrutor vai fazendo curvas… Try this emotion, my friend. É tão seguro quanto possível. E, of course, inesquecível.

E que tal voar em um balão na reserva de Masai Mara, no Quênia? Sobrevoar, como Philleas Fog, a grande migração dos animais, uma extensa coluna de milhões de antílopes, gnus, zebras e girafas que caminham juntos rumo ao norte quando desaparecem as pastagens do sul. That’s wonderful!

E há mais, muito mais: velejar em um clipper no Caribe ou no Mediterrâneo: a mistura do prazer de um cruzeiro com a aventura de ser guiado pelos ventos. Cavalgar em comitiva nas águas do Pantanal. Flutuar numa canoa (mokoro) em Botswana…Sim, dear Jeam: ainda restam milhares de aventuras para jovens de sua idade. Não hesite em fazê-las as soon as possible. Se não, você sabe, um dia chega a idade e as coisas começam a ficar mais difíceis.

Fonte: O Estadão

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