Charge de Gerson Kauer |
Figurantes para minisséries...
O anúncio nos classificados do grande jornal era insinuante: “Atenção, atores e atrizes sem experiência. Companhia de Porto Alegre, com 15 anos de credibilidade, leva você para trabalhos em novelas e programas de TV no Rio de Janeiro. Garantimos 100% uma participação”.
Foi por isso que a Zizi e 39 outras sonhadoras embarcaram em 24 horas de modorrenta viagem de ônibus, ao Rio. Antes emitiram dez cheques (R$ 130 cada), para pagamento da viagem e da hospedagem. "O futuro trabalho na televisão vai cobrir o investimento" - prometia o lero-lero. Na cidade maravilhosa, hospedadas em hotel de segunda categoria, em Copacabana, todas foram convidadas a fazerem uma opção: a) fazer nu; b) não fazer nu.
Depois eram chamadas para a avaliação individual.
Diante das circunstâncias, Zizi sentiu-se pressionada a entrar na fila do “sim”, porque as que não o faziam, após rápida entrevista eram excluídas dos trabalhos.
Zizi foi, então, recebida por três homens e uma gerentona. Após rápida conversa, ela recebeu ordens para ir ao banheiro e tirar a roupa. Assim fez e... foi aprovada!
Após o teste, Zizi participou, como figurante, das gravações de dois seriados, - tudo num dia. À noite, ela foi transportada por uma van do estúdio até o hotel. No veículo, foi assediada sexualmente por um dos organizadores. Não cedeu - e na manhã seguinte sofreu as consequências: foi afastada da continuidade dos trabalhos. Era uma evidente represália ao episódio de recusa do dia anterior.
De volta a Porto Alegre, Zizi tocou uma ação contra os promotores da caminhada artística. A contestação sustentou que o teste sem roupas "era necessário para constatar se as candidatas eram tatuadas, ou não - até porque a emissora não aceitava marcas na pele".
No depoimento pessoal, Zizi detalhou:
- A gente entrava, ia para o banheiro, tirava a roupa toda e ia para a frente deles. Eram uma mulher e três homens. Um deles dava as ordens: ´vira de costas, agora´. Tinha um velho de olhos arregalados, parecia um tarado".
A prova oral comprovou a tese da inicial. E o juiz de primeiro grau calcou na sentença: “não havia razão para a nudez total, na medida em que a forma física das candidatas poderia ser averiguada, por exemplo, mediante a utilização de roupas de praia".
No tribunal, o relator foi professoral: "se o intuito era unicamente o exame da beleza corporal das autoras, não havia necessidade de grande contingente de pessoas do sexo masculino no local. Ademais, a emissora buscava só figurantes..."
A agência de modelos pagou a conta da condenação: R$ 20 mil, mais correção e juros. Estimuladas pelo precedente, outras jovens - partícipes da mesma viagem e optantes da fila do "sim" - estão alinhavando ações semelhantes.
E a rede de televisão já rompeu o "convênio" para que a ré seguisse recrutando, Rio Grande do Sul afora, outras "figurantes para minisséries"...
Fonte: www.espacovital.com.br
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